O “Novo” Calvinismo X O “Velho” Calvinismo - Pr. Juan De Paula
Minha “conversão” ao calvinismo se deu em 2004 ao iniciar o Segundo ano do curso de teologia no seminário por influência de um professor que se tornou um grande amigo pessoal. Já havia tensões em minha mente sobre a soberania de Deus na salvação em 2002, mas com a descoberta do método histórico-crítico e algumas inclinações neo-ortodoxas no 1º ano, pude “resolver” as tensões quanto à predestinação em minha mente abrindo mão da inerrância bíblica. Nas férias, pude perceber que abrir mão da inerrância me traria sérios problemas na mente e no coração e precisava de substância para crer de forma evangélica. Foi aí que estudei a confissão de Fé de Westminster e ponto: tornei-me um calvinista fervoroso e vigoroso na defesa da soberania de Deus e das doutrinas da graça, convicções que amo, professo e defendo até hoje e oro para que permaneça assim até o fim da minha existência.
Porém agi com muita falta de sabedoria e achava que estava certo assim. Por um lado eram tensões que precisava resolver no coração, por outro lado, espelhava a simbiose entre a fé reformada e o tradicionalismo. Daí que ao iniciar as leituras em John Piper e depois descobrindo toda uma tropa (Wayne Grudem, Mark Driscoll, C. J. Mahaney, Tim Keller) que foi denominada “novo calvinismo” recentemente pela revista Times como a 3º idéia mais influente nos EUA (Glória a Deus por isso!) fui despertado para algumas questões.
O “novo” calvinismo x o “velho” calvinismo
O movimento que foi denominado “novo calvinismo” se assemelha ao “velho” calvinismo nas convicções doutrinárias. Crê no conteúdo das confissões de fé reformadas e as enxerga como fiéis intérpretes das Escrituras. Crê nas doutrinas da graça e na soberania de Deus na salvação e afirma isso com veemência. Porém assume algumas posturas diferentes no campo prático e pastoral.
1 – O “novo” calvinismo tem uma postura dialogal com outros cristãos. O “novo” calvinismo observa outras vertentes do cristianismo e absorve o que há de melhor. O “novo”calvinismo busca ter humildade para não se achar melhor do que outros e busca sabedoria para se articular nas controvérsias. Conforme salientou Mark Driscoll: “O velho calvinismo era temeroso e desconfiado dos outros cristãos, queimando pontes. Essa nova corrente faz o contrário” ou seja, para Driscoll, o “novo” calvinismo constrói pontes entre os cristãos. A máxima de Richard Baxter é bastante relevante nesse sentido: “No que é essencial, unidade, no que é não-essencial, liberdade e em todas as coisas, caridade”.
2 – O “novo” calvinismo dialoga com a contemporaneidade. Não olha com desconfiança para a pós-modernidade, mas pega o que há de melhor combatendo o relativismo. Não se assemelha ao mundo no conteúdo, mas procura comunicar melhor ao mundo a mensagem adquirindo uma prática litúrgica bíblica e ao mesmo tempo contextualizada entendendo a liberdade que Jesus Cristo dá a sua Igreja nesse sentido. Boa liturgia, bíblica e contemporânea nos cânticos, com conteúdo e relevância.
3 – O “novo” calvinismo é positivo. Não se arma numa fortaleza de defesa, mas também não se contamina com as tendências atuais somente por estarem na moda. Procura manter os distintivos e afirmá-los. Na prática, não investem tempo nem energia para desconstruir os métodos pragmáticos de crescimento de igrejas, mas procuram buscar nas Escrituras os métodos corretos. Não busca ser polemista, mas afirmar a verdade bíblica em amor. Não quer ser pragmático e crescer a qualquer custo, mas busca crescer com os meios bíblicos sem faltar com a relevância e ficar apenas em contextos minúsculos.
4 – O “novo” calvinismo é fervoroso e carismático. John Piper salienta “por um lado, temos os conservadores, extremamente meticulosos com as idéias acerca de Deus e com a preocupação de ter as doutrinas corretamente estabelecidas, aos quais digo: amém! Estou com vocês. Por outro lado, temos os carismáticos, perdidamente simplórios com relação à doutrina e entregues à emoção – levantam as mãos e batem palmas, seus pés pulam e eles sentem algo diferente, caso contrário o Senhor não está naquele lugar! Também estou com Eles! Odeio a separação entre os dois. Farei todo o possível, dentro das minhas forças e enquanto estiver vivo, para ajudar essas pessoas a enxergarem que elas estão dando a Deus apenas à metade da sua glória. Conhecer a Deus verdadeiramente e não sentí-Lo de forma devida é dar-Lhe apenas metade de Sua glória. Sentí-Lo de forma devida e não conhecê-Lo verdadeiramente é dar-Lhe apenas metade de Sua glória. Devemos dar a Deus toda a Sua glória, assim como Jonathan Edwards destacou.” (PIPER, O alvo do aconselhamento bíblico é a glória de Deus In Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, vol. 6) O “novo” calvinismo, se não em todos os seus adeptos, mas em considerável parte, aceita a atualidade, contemporaneidade e continuidade dos dons extraordinários dados pelo Espírito Santo em detrimento do cessacionismo defendido por boa parte dos eruditos reformados. O “novo” calvinismo posiciona as afeições cristãs, parodiando Jonathan Edwards, em seu devido lugar com bom uso das manifestações físicas.
5 – O “novo” calvinismo busca o prazer cristão e a felicidade em Deus. John Piper chama isso de hedonismo cristão. Ainda que alguns fiquem chocados com o termo, ele significa prazer e o ser humano foi criado para glorificar a Deus e se deleitar Nele, perdeu essa alegria na queda, foi redimido por Cristo para se deleitar Nele novamente em reconciliação e será glorificado para a alegria eterna com Deus. O prazer cristão é a felicidade em Deus vivida hoje em todas as esferas da vida. Como diz John Piper: “Deus é mais glorificado em nós, quando estamos mais plenamente satisfeitos Nele”, sentença que guia a sua vida e pensamento e que está exposta no livro “Teologia da Alegria” ou “Em Busca de Deus”. A teologia do prazer cristão tem guiado esse blog nos últimos meses. Isso choca porque ensina que a obediência como dever é legalismo (parodiando Russell Shedd no prefácio ao livro).
6 – O “novo” calvinismo não é institucional ou denominacional. É a fé cristã vivida com intensidade, paixão e fervor pela glória de Deus seja de que denominação evangélica for e em que instituição influenciar. Não se prende a instituições e denominações, mas busca serví-las e contagiá-las.
Cuidados com o “novo” calvinismo
1 - Os propagadores do “novo” calvinismo têm recebido atenção da mídia e como a nossa tendência no coração é fabricar ídolos então corre-se o risco de se idolatrar essas pessoas e tratá-las como celebridade. O foco e o alvo é sempre Jesus Cristo , encarnação da glória de Deus revelada na face dele entre nós.
2 – O “novo” calvinismo não é um fim em si mesmo e nem deve ser idolatrado e adorado como o sistema filosófico mais plausível (ainda que a cosmovisão cristã faça isso), mas o “novo” calvinismo deve buscar colocar Deus no centro de todas as coisas em sua supremacia e majestade e buscar a felicidade dentro disso.
3 – O “novo” calvinismo não tem nada de novo. É a fé cristã em sua expressão reformada dialogando com vitalidade e relevância no século XXI baseado em Romanos 12:2 influenciando o mundo sem se moldar, sem tomar a forma dele, transformando-o com a mente e o coração em Cristo e em nova vida para a glória de Deus.
4 – Ainda estou muito longe de ser alguém totalmente satisfeito em Deus. Ore muito por mim, prezado (a) leitor (a).
Terminando
Viva para a glória de Deus de forma apaixonada!
Busque ser bíblico em tudo!
Seja alegre e feliz em Deus!
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