Santidade
Por: Rev. Augustus Nicodemus
Afinal, o que é pornografia mesmo?
Alguém já disse que é mais fácil reconhecer a pornografia do que defini-la. Os dicionários nos dizem que pornografia é o caráter imoral ou obsceno de uma publicação. Material pornográfico é aquele que descreve ou retrata atos ou episódios obscenos ou imorais. Essas definições não ajudam muito pois conceitos como "obscenos" e "imorais" são bastante subjetivos no mundo de hoje. Classificar material pornográfico em "soft" (nudez e sexo implícito) e "hardcore" (sexo explícito contendo cenas de degradação, violência e aberrações) só ajuda didaticamente. Para muitos, Playboy é uma revista pornográfica. Para outros, não. Entretanto, da perspectiva da ética bíblica, a definição acima é mais que suficiente.
A popularidade da pornografia
É exatamente pela complexidade do assunto, agravado pela omissão de boa parte das igrejas no Brasil, que muitos evangélicos estão confusos quanto ao mesmo, e não poucos são viciados em alguma forma de pornografia. Aqui estão as minhas razões para essa constatação:
1) A tremenda popularidade da pornografia no mundo de hoje. Uma estatística de 1995 revelou que os americanos gastam mais em pornografia do que em Coca-Cola. Não é difícil de imaginar que a situação no Brasil não seria muito diferente. Até países antigamente fechados, como a China, em 1993 assistiu a uma enxurrada de material pornográfico em seus limites, após ter aberto, mesmo que um pouco, as suas fronteiras para receber ajuda estrangeira. Mensalmente, cerca de 8 milhões de cópias de revistas pornográficas circulam no Brasil. Em 1994 a venda de vídeos pornôs chegou perto de 500 milhões de dólares. Não é de se admirar que as locadoras reservam cada vez mais espaço nas prateleiras para esses vídeos. Segundo uma pesquisa, em 1992, 1 a cada 4 brasileiros assistiu a um filme de sexo explícito. O mesmo fizeram 13% das mulheres entrevistadas. Em 1995 esse número dobrou para os homens e aumentou um pouco em relação às mulheres.
2) A imensa facilidade para se conseguir material pornográfico no mundo de hoje. Como na maioria dos demais países "civilizados" (uma conhecida exceção é o Irã) material pornográfico pode ser encontrado e consumido facilmente no Brasil em diversas formas: cinema, canais abertos de televisão, televisão a cabo e no sistema "pay-per-view", internet, fitas de vídeo, CD-ROMs com material pornográfico, gravuras, exposições de arte erótica, livros, revistas e vídeogames, entre outros. Parece não haver fim à criatividade do homem em utilizar-se dos avanços tecnológicos para a difusão da pornografia. Como disse o escritor francês Restif de la Bretone no século 18, "La dépravation suit le progrès des lumières" ("A depravação segue o progresso das luzes").
O que tem de mais em ver pornografia?
Muito embora os evangélicos em geral sejam contra a pornografia (alguns apenas instintivamente) nem todos estão conscientes do perigo que ela representa. Menciono alguns deles em seguida:
1) Consumir deliberadamente material pornográfico é violar todos os princípios bíblicos estabelecidos por Deus para proteger a família, a pureza e os valores morais. A própria palavra "pornografia" nos aponta esse realidade. Ela vem da palavra grega pornéia, que juntamente com mais outras 3 palavras (pornos, pornê e pornéuo) são usadas no Novo Testamento para a prática de relações sexuais ilícitas, imoralidade ou impureza sexual em geral. Freqüentemente essas palavras de raiz porn- aparecem em contextos ou associadas com outras palavras que especificam mais exatamente o tipo de impureza a que se referem: adultério, incesto, prostituição, fornicação, homossexualismo e lesbianismo. O Novo Testamento claramente condena a pornéia: ela é fruto da carne, procede do coração corrupto do homem, é uma ameaça à pureza sexual e devemos fugir dela, pois os que a praticam não herdarão o reino de Deus. A pornografia explora exatamente essas coisas — adultério, prostituição, homossexualismo, sadomasoquismo, masturbação, sexo oral, penetrações com objetos e — pior de tudo — pornografia infantil, envolvendo crianças de até 4 anos de idade.
2) Consumir deliberadamente material pornográfico é contribuir para uma das indústrias mais florescentes do mundo e que, não poucas vezes, é controlada pelo crime organizado. Segundo um relatório oficial em 1986, a indústria pornográfica nos Estados Unidos é a terceira maior fonte de renda para o crime organizado, depois do jogo e das drogas, movimentando de 8 a 10 bilhões de dólares por ano. Acredito que o quadro é ainda pior hoje. A indústria da pornografia apoia e promove a indústria da prostituição e da exploração infantil. O dinheiro que pais de família gastam com pornografia deveria ir para o sustento de sua família. Alguns podem alegar que consomem apenas material soft contendo somente cenas de nudez — esquecendo que esse material é produzido pela mesma indústria ilegal que produz e distribui a pornografia infantil.
Pornografia e a escalada da violência
Não são poucos os relatórios feitos por comissões de pesquisadores que denunciam a estreita relação entre a pornografia e a crescente onda de estupros, assédio sexual e exploração infantil nos países "civilizados". Vários dos temas mais comuns em pornografia do tipo hardcore incluem cenas de seqüestro e estupro de mulheres, geralmente com espancamento e tortura, além de outras formas obscenas de degradação. A mensagem que a pornografia passa aos consumidores é que quando a mulher diz "não" na verdade está dizendo "sim", e que se o estuprador insistir, ela não somente aceitará como também passará a gostar. Assim, a violência contra a mulher é exposta como algo válido e normal. A mulher é vista como objeto sexual a ser usado ao bel-prazer dos homens.
Uma outra forma de hardcore é a pornografia infantil. Esse material exibe cenas de sexo envolvendo crianças e adolescentes. Em alguns casos, crianças aparecem assistindo a cenas de sexo oral por adultos, em outras, são violentadas e estupradas por adultos. Já em outras, fazem sexo entre si. Esse material ilegal, mórbido, desumano e obsceno está disponível pela Internet até mesmo em servidores estacionados em universidades federais, conforme denúncias de jornais em dias recentes. Grandes provedores têm seções onde usuários podem bater papo sobre sexo e trocar imagens de sexo explícito com crianças, algumas delas tão degradantes, segundo uma denúncia feito pelo Instituto Gutemberg em Julho de 1997, que faz da revista "Penetrações Profundas" uma publicação para freiras.
Associado com a pornografia hardcore está o surto de violência sexual contra as mulheres e crianças nas sociedades modernas onde esse material pode ser obtido facilmente. Estudos por especialistas americanos mostram que existe uma estreita relação entre pornografia e a prática de crimes sexuais. Eles afirmam que 82% dos encarcerados por crimes sexuais contra crianças e adolescentes admitiram que eram consumidores regulares de material pornográfico. O relatório oficial do chefe de polícia americano em 1991 diz: "Claramente a pornografia, quer com adultos ou crianças, é uma ferramenta insidiosa nas mãos dos pedofílicos [viciados em sexo com crianças]". A pornografia está estreitamente associada ao crescente número de estupros nos países civilizados. Só nos Estados Unidos, o número conhecido pela polícia cresceu 500% em menos de 30 anos, que corresponde ao aumento da popularidade e facilidade em se encontrar material pornográfico. Cerca de 86% dos condenados por estupro admitiram imitação direta das cenas pornográficas que assistiam regularmente.
Crentes "voyeurs"?
Há boas razões para acreditarmos que o número de evangélicos no Brasil que são viciados em pornografia é preocupante. Pesquisadores estimam que nos Estados Unidos cerca de 10% dos evangélicos estão afetados. Considerando que no Brasil a facilidade de se obter material pornográfico é a mesma — ou até maior — que nos Estados Unidos, considerando que a igreja evangélica brasileira não tem a mesma formação protestante histórica da sua irmã americana, considerando a falta de posição aberta e ativa das igrejas evangélicas brasileiras contra a pornografia, como acontece nos Estados Unidos, não é exagerado dizer que provavelmente mais que 10% dos evangélicos no Brasil são consumidores de pornografia. Talvez esse número seja ainda conservador diante do fato conhecido que os evangélicos no Brasil assistem mais horas de televisão por dia que muitos países de primeiro mundo, enchendo suas mentes com programas que promovem a violência e o erotismo, e assim abrindo brechas por onde a pornografia penetre e se enraize.
Mais preocupante ainda é a probabilidade de que grande parte desse percentual é de jovens evangélicos adolescentes. Uma pesquisa feita por Josh McDowell em 22 mil igrejas americanas revelou que 10% dos adolescentes havia aprendido o que sabiam sobre sexo em revistas pornográficas. 42% deles disse que nunca aprendeu qualquer coisa sobre o assunto da parte de seus pais. E outros 10% confessaram ter assistido a um filme de sexo explícito nos últimos 6 meses. Uma extrapolação, ainda que conservadora, para a realidade das igrejas brasileiras é de deixar pastores e pais em estado de alarme.
O escândalo envolvendo o pastor Jimmy Swaggart em 1988 revelou abertamente uma outra face do problema, que há pastores evangélicos que também são viciados em pornografia. Uma pesquisa feita em 1994 entre pastores evangélicos americanos revelou uma relação estreita entre o consumo de pornografia e a infidelidade conjugal. Por causa do receio de serem apanhados e de estragarem seus ministérios, muitos pastores optam por consumir pornografia como voyeurs a praticar o adultério de fato, embora alguns acabem eventualmente caindo na infidelidade prática. Quando eu me preparava para escrever esse ensaio, li diversos artigos sobre pornografia publicados em revistas americanas e européias de aconselhamento pastoral. Muitos deles são abertamente dirigidos para ajudar pastores viciados em pornografia.
Falta de decência
Infelizmente parece que estamos nos acostumando à falta de decência. Tornamo-nos como os pagãos. Temos a mesma atitude que eles têm para com a nudez e a exposição dos órgãos sexuais. A arqueologia revelou que em muitas das paredes dos templos pagãos cananitas, que foram destruídos pelos israelitas quando conquistaram a terra (Lv 26.1; Nm 33.52), havia desenhos de órgãos sexuais masculinos e femininos. Essas são as formas mais antigas de pornografia que conhecemos. Os cananitas aparentemente representavam os órgãos genitais nas paredes para excitar os adoradores e estimulá-los à prática da prostituição sagrada. Os israelitas, em contraste, tinham uma atitude totalmente diferente quanto à exposição dos órgãos sexuais. Em suas Escrituras Sagradas estava escrito que Deus cuidou em cobrir a nudez do primeiro casal após a queda (Gn 2:25; 3:7-10). Havia uma preocupação em que as vestimentas cobrissem os órgãos genitais, ao ponto de que havia uma determinação na lei de Moisés de que o sacerdote deveria ter cuidado para não subir as escadas do altar de forma a deixar que seus órgãos genitais ficassem expostos (Dt 20:26). Cão, o filho de Noé, foi condenado por ter visto a nudez de seu pai. A própria Bíblia se refere à genitália de forma reservada, usando às vezes eufemismos como "nudez" (Lv 18), "pele nua" (Ex 28.42), "membro viril" (Dt 23.1), "entre os pés" (Dt 28.57) e "parte indecorosa" (1 Co 12.23), só para citar alguns exemplos.
Podemos fazer alguma coisa, sim!
Acredito que os pastores e as igrejas evangélicas no Brasil podem fazer algumas coisas: ler os estudos e relatórios sobre os efeitos da pornografia feitos por comissões especializadas; pregar sobre o assunto e especialmente dar estudos para grupos de homens; desenvolver uma estratégia pastoral para ajudar os membros das igrejas que são adictos à pornografia; não esquecer que muitos pastores podem precisar de ajuda eles mesmos; criar comissões que se mobilizem ativamente contra a pornografia, utilizando-se dos dispositivos legais que o permitam (uma possibilidade é encorajar os políticos evangélicos a tomar posições bem definidas contra a pornografia); desenvolver uma abordagem que trate da sexualidade de forma bíblica, positiva e criativa; tratar desses temas desde cedo com os adolescentes da Igreja expondo o ensino bíblico de forma positiva; orar especificamente pelo problema.
Não estou pregando uma cruzada de moralização, embora evidentemente a igreja evangélica brasileira poderia tirar bastante proveito de uma. A pornografia é um mal de graves conseqüências espirituais e sociais embora não acredite que devamos fazer dela o inimigo público número 1, como algumas organizações moralistas e fundamentalistas dos Estados Unidos. Afinal de contas, a raiz desse problema — e de outros — é o coração depravado e corrompido do homem, que só pode ser mudado pelo Evangelho de Cristo. Hitler conseguiu em 4 anos banir da Alemanha todas as formas de pornografia e perversão e incutir na geração jovem de sua época a aspiração por altos valores morais e pela pureza da raça ariana. Os motivos eram errados e o projeto de Hitler acabou no desastre que conhecemos. Não acabaremos com a depravação moral somente com leis e discursos políticos. Jack Eckerd, um empresário milionário dono de um negócio que rendia mais de 2,5 milhões de dólares por ano, ao se converter a Cristo em 1986, determinou que todas as publicações pornográficas vendidas em suas 1.700 lojas fossem retiradas, mesmo que isso significasse a perda de alguns milhões de dólares anuais. Quando o coração é mudado as mudanças morais seguem atreladas.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O Debate sobre o Batismo com o Espírito Santo
Batismo
Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes*
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O debate na Igreja brasileira sobre o batismo com o Espírito Santo tem sido às vezes conduzido em torno das figuras do (já falecido) Dr. Martyn Lloyd-Jones e do Dr. John Stott.1 Mais particularmente, o debate tem girado em torno das suas interpretações da conhecida passagem de Paulo em 1 Coríntios 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.2 A passagem é crucial para o debate, já que é a única, fora dos Evangelhos e de Atos, que traz juntas palavras como "todos", "Espírito", "batizar", "corpo", e "beber". Alguns defensores do batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, referem-se ao Dr. Lloyd-Jones como exemplo de um teólogo reformado e puritano que defende essa posição. Os do campo contrário, referem-se ao Dr. Stott como um teólogo de renome mundial que sustenta ser o batismo com o Espírito Santo idêntico à conversão.
Duas observações iniciais sobre esta realidade. Primeira, o debate sobre o batismo com o Espírito Santo tem encontrado muito mais participantes ilustres do que apenas Lloyd-Jones e Stott. Existem muitos livros e artigos defendendo uma e outra posição, escritos por teólogos conhecidos e de diferentes persuasões teológicas. O fato de que, no Brasil, esta polêmica desenvolve-se em torno dos nomes de Lloyd-Jones e de Stott deve-se ao simples fato de que ambos tiveram suas obras traduzidas para o português, e outros não. E a segunda observação decorre deste último ponto: a doutrina do batismo com o Espírito Santo não é a principal ênfase dos ministérios de Lloyd-Jones e Stott.3 Ambos falaram e escreveram sobre muitos outros assuntos. Mas o fato é que, no Brasil, por falta de autores nacionais que escrevam claramente sobre o assunto, e que tomem uma posição definida, e também por causa das poucas traduções em português de livros sobre o tema, o debate desenvolveu-se mesmo em torno desses dois nomes.
Também é importante lembrar que esses dois importantes líderes não se envolveram pessoalmente em disputa pública sobre esse ponto específico. São alguns de entre os seus seguidores e admiradores que têm usado seus escritos para debater as diferenças que a discussão moderna sobre o assunto tem levantado. Lloyd-Jones e Stott, na verdade, estiveram envolvidos em outro tipo de polêmica, mais especificamente com relação a eclesiologia, e a unidade dos evangélicos.
Partindo então da inevitável realidade de que teremos de lidar com Lloyd-Jones e Stott ao nos referirmos à questão do batismo com o Espírito Santo em um artigo destinado a pastores e líderes brasileiros, tentaremos aqui dar uma colaboração ao debate através de uma apresentação e análise da posição de ambos, particularmente à luz da maneira como interpretam 1 Co 12.13.
- LLOYD-JONES E 1 CO 12.13
Vamos começar com Martyn Lloyd-Jones, por uma questão de cronologia. Sua opinião sobre o batismo com o Espírito Santo, e sua interpretação de 1 Co 12.13, podem ser encontradas em três de suas obras principais. Primeiro, em God’s Ultimate Purpose, o primeiro volume de sua famosa série de sermões na carta aos Efésios, pregados nos anos 1954-1955, durante seu ministério na Capela de Westminster, Londres.5 Ele expõe Efésios 1.13 em seis capítulos, quando então aborda o tema do batismo com o Espírito Santo.6 Segundo, no volume da sua série em Romanos, entitulado The Sons of God, onde ele expõe Romanos 8.5-17.7 Esse volume contém os sermões pregados em Romanos durante os anos 1960-1961, dos quais oito tratam de Rm 8.16, uma passagem que, segundo Lloyd-Jones, refere-se ao batismo com o Espírito Santo.8 Por fim, em seu livro Joy Unspeakable, publicado em 1984, que é a transcrição de vinte e quatro sermões pregados em 1964 na Capela de Westminster, Inglaterra, numa série em João 1.26-33.9 Nesta obra, Lloyd-Jones trata de forma detalhada da sua posição sobre o batismo com o Espírito Santo, e de 1 Co 12.13.10 Procuraremos resumir, partindo destas fontes, a sua interpretação da passagem.11
- O CONTEXTO DO ENSINO DE LLOYD-JONES
Devemos estar conscientes do contexto em que Lloyd-Jones aborda esse assunto. Ele estava reagindo a duas tendências de sua época, as quais considerava perniciosas para a vida da Igreja. Em primeiro lugar, contra o nascente movimento de "línguas", em Londres, cujos proponentes reivindicavam terem sido "batizados com o Espírito", e colocavam a ênfase maior no dom de línguas. Lloyd-Jones freqüentemente adverte contra os perigos do fanatismo, misticismo, e abusos nesta área,12 fato que às vezes tem sido esquecido por alguns que usam seus escritos para promover conceitos e práticas carismáticos.
Lloyd-Jones enfrentava ao mesmo tempo um tipo de ensino aparentemente ortodoxo que ele considerava ainda mais pernicioso à vida da Igreja do que os excessos dos carismáticos. Basta que leiamos os capítulos 21—25 do seu livro God’s Ultimate Purpose para verificarmos que, na maioria das vezes, ele está reagindo, não aos excessos do movimento carismático nascente, mas ao tipo de ensino que dizia que os crentes já tinham recebido tudo por ocasião da sua conversão, e que não mais precisavam buscar a plenitude do Espírito ou um nível maior de vida espiritual.13 Era esse Cristianismo antiemocional e intelectualista que prevalecia nas Igrejas evangélicas da Inglaterra. Para muitos pastores e estudiosos daquela época, todos os crentes já haviam recebido tudo do Espírito na sua conversão, e o que restava era irem se apropriando destes benefícios gradativamente, na vida cristã.14 Para eles, quase todos os aspectos da obra redentora e santificadora do Espírito Santo ocorriam num âmbito não "experienciável",15 e atividades do Espírito como o "selo" (Ef 1.13) e o "testemunho ao nosso espírito" (Rm 8.16) eram encarados como se processando em um nível intelectual, ou acima da nossa capacidade de sentir ou experimentar. Outros ensinavam que todas estas coisas eram para ser tomadas "pela fé", independentemente dos sentimentos ou das emoções.
Para Lloyd-Jones, esse tipo de ensino era responsável em grande parte pelo fato de a maioria dos cristãos na Europa desconhecerem um Cristianismo vigoroso, "experienciável", e de praticarem uma religião fria, sem emoções, e destituída de vigor e vida. Como pastor de formação puritana, Lloyd-Jones reagiu fortemente a esse tipo de ensino que acabava por negar o caráter "experienciável" da fé em Cristo, e o lugar das emoções na experiência cristã. Mas, o seu maior conflito com esses teólogos era que tal ensinamento, na sua opinião, não deixava lugar para reavivamentos espirituais, para novos derramamentos do Espírito sobre a Igreja.
Por esse motivo, ele abordou o assunto do batismo com o Espírito Santo muito mais em reação à frieza espiritual da sua época, do que em reação ao movimento carismático, que estava apenas em seus inícios naqueles dias.
- O SELO DO ESPÍRITO E O BATISMO COM O ESPÍRITO
Ao expor Ef 1.13, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, Lloyd-Jones segue a interpretação de alguns teólogos Puritanos (Thomas Goodwin, John Owen, Charles Simeon, Richard Sibbes), e do famoso Charles Hodge de Princeton, que defendiam que esse "selo" não é a mesma coisa que a conversão, e pode ocorrer depois.16 A principal ênfase de Lloyd-Jones em sua exposição da passagem é que esse "selo" é algo que pode ser experimentado, sentido e identificado pelos crentes, e que não se trata de algo que já ocorreu automaticamente com todos eles na sua conversão. Como demonstração, ele menciona experiências de personagens famosos na História da Igreja, como John Flavel, Jonathan Edwards, D. L. Moody, Christmas Evans, George Whitefield e John Wesley.17
Trata-se de uma experiência, diz Lloyd-Jones, e não de um processo. Assim, é algo que deve ser buscado por cada um.18 Também não devemos confundir o "selo" com a plenitude do Espírito, e nem com a santificação;19 o "selo" também não é algo a ser "apropriado pela fé", como ensinam alguns pregadores e escritores:20 ele funciona como uma autenticação de Deus de que de fato pertencemos a ele, algo semelhante ao ocorrido com o Senhor Jesus quando foi batizado (comparar Jo 1.32-34 com 5.27).21
Lloyd-Jones identifica esse "selar" do Espírito com o "batismo" do Espírito, experimentado pelos apóstolos no dia de Pentecostes, e ainda pelos samaritanos, Cornélio e sua casa, e os discípulos de João Batista em Éfeso.22
- O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO E O BATISMO COM O ESPÍRITO
Em sua exposição de Romanos 8.16, Lloyd-Jones afirma que o testemunho do Espírito ao nosso próprio espírito é mais do que o resultado de um processo racional, pelo qual o crente chega à certeza da salvação. Segundo ele, trata-se de uma certeza dada de forma imediata (sem o uso de meios) pelo Espírito, diretamente à nossa consciência. Portanto, é algo da mesma ordem que o "selo" ou batismo com o Espírito.23 É algo distinto da conversão, que ocorre após a mesma, às vezes em um intervalo de tempo extremamente breve.24
- 1 CORÍNTIOS 12:13
Lloyd-Jones está consciente de que alguns apelarão para 1 Co 12.13 para contradizer seu ponto de vista. Para ele, a passagem ensina de fato que o Espírito Santo batiza o crente, colocando-o no corpo de Cristo que é a Igreja, e que isto ocorre na conversão, e que, portanto, todos os cristãos já foram objeto desta atividade do Espírito. Porém, ele argumenta, esse "batismo" de 1 Co 12.13 não é o mesmo "batismo" ou "selo" do Espírito mencionado nos Evangelhos e em Atos. O que ocorre é que a palavra "batismo" é empregada no Novo Testamento com vários sentidos diferentes.25 Para ele, o batismo pelo Espírito em 1 Co 12.13 significa o ato pelo qual o Espírito nos incorpora à Igreja, e que portanto é idêntico à conversão, ao passo que, nos Evangelhos, e principalmente em Atos, o batismo com o Espírito refere-se a uma experiência pós-conversão, confirmatória e autenticadora em sua essência.26
Lloyd-Jones argumenta que uma das diferenças decisivas entre 1 Co 12.13 e as passagens em Atos sobre o batismo com o Espírito Santo, é quanto ao agente do batismo, ou seja, a pessoa que batiza. Ele acredita que na expressão e)n e(ni/ pneu/mati h(mei=j pa/ntej ei)j e(\\\\\\\\n sw=ma e)bapti/sqhmen a preposição e)n tem força instrumental, e que deve, portanto, ser traduzida "por um só Espírito", e não "em um só Espírito". Ele argumenta que "por" é a tradução da maioria das versões em Inglês, e que a preposição e)n ocorre em várias outras ocasiões no Novo Testamento com a mesma força instrumental (ele cita Mt 7.6; 26.52; Lc 1.51; Rm 5.9). Ele cita ainda várias outras autoridades na área de exegese que mantém esta opinião.27 Ele conclui que, em 1 Co 12.13, é o Espírito quem nos batiza no corpo de Cristo. Nas demais passagens, o agente é o Senhor Jesus, o que é algo muito diferente. A confusão existe pelo fato de que a mesma palavra "batismo" é usada.28 Em 1 Co 12.13 ela se refere à conversão, mas nas demais passagens, a uma experiência posterior à conversão, e portanto, distinta da mesma.
- ERA LLOYD-JONES UM CARISMÁTICO?
Em resumo, para Lloyd-Jones, o batismo com o Espírito Santo é uma experiência na qual o Espírito concede ao crente plena certeza de fé, e que deve ser identificada com o selo e o testemunho do Espírito mencionados por Paulo. Esta experiência resulta em poder e ousadia, que por sua vez, capacitam o crente a testemunhar eficazmente de Cristo.
É extremamente importante notar que o pensamento de Lloyd-Jones sobre o selo ou batismo do Espírito, é essencialmente diferente da posição pentecostal clássica, e da posição neopentecostal. Lloyd-Jones não vê nenhuma evidência bíblica de que esta experiência deva ser acompanhada pelo falar em línguas e pelo profetizar, ou por qualquer outra manifestação extraordinária. Na verdade, ele chama a atenção para o fato de que muitos dos dons que foram concedidos no início da Igreja Cristã não haviam sido mais concedidos no desenrolar desta mesma história. Ele aponta para o fato de que nenhum dos grandes nomes da História da Igreja, conhecidos como tendo passado por experiências profundas com o Espírito (que ele considera como tendo sido esse "selar" ou "batizar" do Espírito) terem manifestado dons como línguas, profecia, ou milagres. Para Lloyd-Jones, o ponto essencial desta experiência também não é a capacitação de poder, como enfatizado em círculos pentecostais e carismáticos, mas a certeza dada de forma direta, pelo Espírito, de que somos filhos de Deus.29
Como já mecionamos, ao mesmo tempo em que estava reagindo contra o Cristianismo frio e árido de sua época, Lloyd-Jones também estava em combate contra várias ênfases do nascente movimento carismático. Talvez o único ponto em que ele estivesse em acordo com eles é que o "selo" (batismo) do Espírito é algo distinto da conversão, e que ocorre após a mesma.30 As diferenças quanto ao propósito e às evidências deste evento são por demais distintas das convicções pentecostais-carismáticas, para que venhamos a classificar Lloyd-Jones como um carismático.
- STOTT E 1 CORÍNTIOS12.13
Passemos agora para a opinião de John Stott. Conhecido pregador e escritor, Stott é ministro da Igreja Anglicana da Inglaterra. Em 1964 ele fez uma série de estudos numa conferência para líderes evangélicos sobre a obra do Espírito Santo, os dons espirituais, e especialmente, sobre o batismo com o Espírito Santo. Estas palestras foram uma reação de Stott ao crescente Pentecostalismo dentro da sua própria paróquia.31 As palestras vieram ao grande público em 1966, num livrete intitulado The Baptism and Fullness of the Holy Spirit,32 após os sermões de Lloyd-Jones sobre o assunto já terem sido impressos. Dez anos após Stott publicou uma segunda edição, entitulada Baptism & Fullness: The Work of the Holy Spirit Today,33 onde ampliou algumas partes que precisavam de mais clareza e fundamentação, sem, entretanto, alterar seus pontos de vista.34 Esta obra foi traduzida e publicada em Português em 1986, como Batismo e Plenitude do Espírito Santo.35 Nela, Stott trata dos principais aspectos da obra do Espírito relacionados com a polêmica moderna, tais como a promessa do Espírito, o batismo do Espírito, a plenitude, o fruto e os dons do Espírito. Procuraremos nos concentrar na sua interpretação de 1 Co 12.13.
- UMA EXPERIÊNCIA INICIATÓRIA
Stott argumenta que a expressão "batismo com o Espírito Santo", que ocorre sete vezes no Novo Testamento, é equivalente à expressão "o dom do Espírito Santo" que ocorre em At 2.38, e refere-se à experiência iniciatória da qual participam todos os que se tornam cristãos.36 O próprio conceito de "batismo com água" é iniciatório, como sendo o ritual público de introdução na Igreja, e está intimamente associado ao batismo com o Espírito Santo, como sugere At 10.47, 11.16 e 19.2-3.37 Ele argumenta que a linguagem empregada por Paulo para descrever a experiência cristã com o Espírito, como "estar no Espírito", "ter o Espírito", "viver pelo Espírito", e "ser guiado pelo Espírito", é aplicada nas cartas do apóstolo a todos os cristãos, indistintamente, até mesmo para os recém convertidos, a partir do momento em que se tornam cristãos. O Novo Testamento, continua Stott, presume que Deus tem dado o Espírito a todos os cristãos, cf. Rm 8.9; Gl 5.25; Rm 8.14.38
Das sete vezes em que a expressão "ser batizado com o Espírito Santo" ocorre no Novo Testamento, somente uma vez é fora dos Evangelhos e de Atos (ou seja, em 1Co 12.13). Stott lembra que, nos Evangelhos, a expressão aparece quatro vezes nos lábios de João Batista, ao descrever o ministério do Senhor Jesus, "ele vos batizará com o Espírito Santo" (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Em Atos, uma vez é aplicada pelo Senhor a Pentecostes (At 1.5), e outra é aplicada por Pedro à conversão de Cornélio, citando as palavras do Senhor Jesus (At 11.16).
A sétima vez é em 1 Co 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Stott contesta que, aqui, Paulo esteja se referindo ao Dia de Pentecoste, já que nem ele, nem os coríntios, participaram daquele evento histórico. Paulo está se referindo à participação nas bênçãos que Pentecoste tornou possível aos cristãos. Ele e os coríntios tinham recebido o Espírito Santo; aliás, para usar a terminologia de Paulo, tinham sido "batizados" com o Espírito Santo, e tinham "bebido" deste mesmo Espírito.
Stott aponta para o fato de Paulo estar enfatizando a unidade no Espírito no contexto da passagem, em contraste deliberado à variedade dos dons espirituais, assunto que o apóstolo havia discutido na primeira parte de 1 Co 12. Esse ponto é evidente pela repetição da palavra "todos" (todos...foram batizados, todos...beberam) e da expressão "um só" (um só Espírito... em um só corpo... de um só Espírito). O que Paulo está fazendo aqui, afirma Stott, é sublinhar aquela experiência com o Espírito Santo que todos os cristãos têm em comum. Esta é a diferença entre "o dom do Espírito" (quer dizer, o próprio Espírito Santo), e "os dons do Espírito" (isto é, os dons espirituais que ele distribui). Neste capítulo Paulo emprega várias vezes uma terminologia onde a unidade dos cristãos é destacada, cf. 12.4,8,9,11,13. O clímax é 12.13, onde o apóstolo afirma que em um só Espírito todos nós fomos batizados em um corpo. A expressão de Paulo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, bem pode ser uma alusão a "toda a carne" mencionada na profecia de Joel. Stott conclui que o batismo com o Espírito Santo não é uma segunda experiência, nem uma experiência subseqüente desfrutada somente por alguns cristãos, mas a experiência inicial desfrutada por todos.39 Ou seja, o batismo com o Espírito é o mesmo que conversão.
No seu recente comentário em Atos, Stott procura deixar claro que não nega que haja experiências mais profundas e mais ricas após a conversão. Porém, ele rejeita a idéia de que tais coisas possam ser chamadas de "batismo com o Espírito", uma terminologia que ele reserva apenas para a conversão, a obra inicial do Espírito no crente.40 É importante notar que, para ele, as passagens nos Evangelhos e em Atos devem ser interpretadas à luz da passagem de Corintios, e portanto, devem se referir à conversão, quando o crente recebe tudo o que lhe é dado receber do Espírito. É sintomático que no seu livro Baptism & Fullness não exista nem uma palavra sobre reavivamento espiritual. Stott aparentemente não nega a possibilidade da ocorrência de um reavivamento em nossos dias, mas certamente não é um dos seus proponentes mais entusiastas.
- BATISMO "PELO", "COM", OU "NO" ESPÍRITO?
Em seguida, Stott passa a responder às objeções que geralmente são levantadas contra sua interpretação de 1 Co 12.13. Inicialmente, ele aborda o argumento de que as outras seis passagens, que se referem ao "batismo com o Espírito Santo", tratam do batismo feito por Jesus em, ou com, o Espírito Santo, enquanto que 1 Co 12.13 trata do batismo realizado pelo Espírito no corpo de Cristo, algo completamente diferente. Os defensores desta posição, esclarece Stott, concordam que o Espírito Santo batizou a todos os crentes no corpo de Cristo, mas isto não prova, para eles, que Cristo batizou a todos com o Espírito Santo. Stott afirma que esse tipo de argumentação é um exemplo de se tentar defender o indefensável, e passa, então, a refutá-la como se segue.41
Em todas as sete ocorrências da frase, a idéia de batismo é expressa pelas mesmas palavras gregas bapti/zw, e)n, pneu=ma, e portanto, a priori, deve ser entendida como se referindo à mesma experiência de batismo. Esta é uma regra sadia de interpretação, diz Stott, e cabe aos que pensam o contrário apresentar provas de que ela não se aplica aqui. A interpretação natural é que Paulo estaria em 1 Co 12.13 ecoando as palavras de João Batista, como Jesus e Pedro haviam feito antes dele (At 1.15; 11.16). É estranho tomar Jesus como o batizador nas seis primeiras passagens, e então, na sétima, tomar o Espírito como sendo o batizador, já que as expressões são idênticas. A preposição grega em 12.13 é e)n, como nos demais versículos, onde é traduzida como "com". Por quê, pergunta Stott, deveria ser traduzida diferentemente?42
- OS QUATRO ELEMENTOS DE TODO BATISMO
Ele então defende esse ponto com o argumento de que em qualquer tipo de batismo existem quatro partes: (1) o sujeito, que é o batizador, (2) o objeto, que é a pessoa sendo batizada, (3) o elemento em, ou no qual a pessoa é batizada, e (4) o propósito com o qual o batismo é realizado. Como exemplo, ele cita o "batismo" dos israelitas no Mar Vermelho (cf. 1 Co 10.1-2). Deus foi o batizador, os israelitas foram os batizandos, o elemento em que foram batizados foi água, ou vapor que caia das nuvens, e o propósito é indicado pela expressão "batizados em Moisés", isto é, para um relacionamento com Moisés como o líder apontado por Deus. O batismo de João, igualmente, tem quatro partes: João (o sujeito) batizou as multidões que vinham de Jerusalém e regiões circunvizinhas (os batizandos) nas (e)n) águas do Rio Jordão (elemento) para (ei)j) arrependimento e, portanto, remissão de pecados, cf. Mt 3.5,11. O batismo cristão é similar, continua Stott. O pastor (sujeito) batiza o candidato (objeto) na, ou com, água (elemento), e o batismo é ei)j, "para" o nome da Trindade, ou mais especificamente, para o nome de Cristo (Mt 28.19; At 8.16). O batismo do Espírito não é exceção a esta regra, conclui Stott. Se colocarmos as sete referências juntas, verificaremos que Jesus Cristo é o batizador (sujeito), todos os crentes (1 Co 12.13) são os batizandos (objeto), o Espírito Santo é o "elemento" com o qual (e)n ) somos batizados, e o propósito (ei)j) é a incorporação do crente no corpo de Cristo.43
Stott reconhece que alguém poderia objetar que estas quatro partes não aparecem claramente em todos as sete passagens mencionadas. Por exemplo, o sujeito (o batizador) não aparece em 1 Co 12.13. Para Stott, isto não é problema: Jesus Cristo é o batizador implícito da passagem, assim como também em At 1.5 e 11.16. Ele não é mencionado porque nestas passagens o verbo "batizar" está na voz passiva, e a ênfase recai sobre as pessoas sendo batizadas, enquanto que o sujeito da ação recua para os bastidores.
Ele ainda argumenta que, se o Espírito é quem batiza em 1 Co 12.13, então, onde está o elemento com o qual ele batiza? Stott considera a falta de resposta a esta pergunta como sendo conclusiva de que sua interpretação é a correta, já que a metáfora do batismo requer um elemento. De outra forma, "batismo não é batismo".44 Ele conclui que 1 Co 12.13 refere-se a Cristo batizando com o Espírito Santo, e nos fazendo beber do Espírito, e que "todos nós" temos participado desta bênção (cf. Jo 7.37-39). Esta conclusão é reforçada pelo tempo dos dois verbos, "batizar" e "beber", ambos no aoristo, e que se referem, não a Pentecoste, mas à bênção pessoal recebida pelos cristãos em sua conversão.45
- UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA
O quadro abaixo poderá nos ajudar a visualizar o pensamento destes dois eminentes servos de Deus sobre 1 Co 12.13.
- EM QUE LLOYD-JONES E STOTT CONCORDAM
Não há diferença entre eles quanto aos batizandos (aqueles sendo batizados) de 1 Co 12.13, e nem de fato deveria haver. Com a expressão todos nós Paulo se refere aos crentes em geral, e não somente a si mesmo e aos coríntios. Paulo está descrevendo na passagem uma experiência que une todos os cristãos, independente de raça, sexo, ou status social, e que isto o apóstolo faz porque seu objetivo, na segunda parte de 1 Co 12, é enfatizar a unidade dos cristãos, em contraste com a diversidade dos seus dons. Colocado dentro desta perspectiva, fica pouca dúvida de que 12.13 esteja se referindo a uma experiência na qual todos os cristãos participam.
Da mesma forma, o propósito deste batismo é claramente indicado pela preposição ei)j.46 Ou seja, "colocar" o crente no corpo, que é a Igreja. Ambos concordam que esse é o alvo do batismo na passagem, e portanto, também concordam que o batismo mencionado é o mesmo que a conversão.
- EM QUE LLOYD-JONES E STOTT DIFEREM
A tradução de e)n
Em primeiro lugar, analisemos a tradução da preposição e)n e a sua relação com o batizador, ou o agente do batismo. Não é fácil decidir sobre quem está certo, se Lloyd-Jones com a tradução "por", ou se Stott, com a tradução "com" ou "em". Todas são gramaticalmente possíveis. A decisão, finalmente, não será uma questão de gramática ou sintaxe, mas de teologia, das pressuposições teológicas que cada exegeta traz consigo ao analisar a passagem.
A favor da tradução "por um só Espírito" (Lloyd-Jones) está o fato de que esta é a tradução adotada pela maioria das traduções nas línguas modernas.47 Contra, está o fato de que esta tradução faz com que a passagem seja a única no Novo Testamento a fazer do Espírito Santo o agente do batismo, e não o elemento com o qual o crente é batizado. Mas, para Lloyd-Jones, isto não é dificuldade, pois o batismo "pelo" Espírito é de fato distinto do batismo "com" ou "no" Espírito. E esta é a pressuposição com a qual ele se aproxima de 1 Co 12.13, ou seja, que o batismo com o Espírito mencionado nos Evangelhos e no livro de Atos é uma experiência distinta da conversão.
A favor de Stott está o fato de que, nas demais ocorrências da expressão, a preposição pode ser traduzida por "com" ou "no" Espírito. Ao analisar 1 Co 12.13 à luz das seis outras ocorrências da expressão "ser batizado com o Espírito Santo", Stott utiliza-se de um princípio sadio e sólido de exegese bíblica: uma passagem da Escritura deve ser interpretada à luz de outras passagens que tratem do mesmo tema. Contra sua interpretação está o fato de que, em última análise, sua posição exige que a conversão dos apóstolos, dos samaritanos e dos discípulos de João Batista, narradas em Atos, tenha ocorrido na mesma ocasião em que foram batizados com o Espírito. Esta posição é insustentável, do nosso ponto de vista, já que, pelo menos no caso dos apóstolos, é evidente que eles já eram regenerados quando foram batizados com o Espírito Santo. Porém, se considerarmos as experiências de Atos como exceções, o caso muda de figura. É isto que Stott eventualmente faz.48
- A RELAÇÃO ENTRE 1 CO 12.13 E AS EXPERIÊNCIAS NO LIVRO DE ATOS
Em segundo lugar, ambos divergem com respeito à relação entre 1 Co 12.13 e as demais passagens paralelas nos Evangelhos e Atos. Como vimos, Lloyd-Jones sustenta que se tratam de experiências diferentes: em 1 Coríntios "batismo pelo Espírito" se refere à conversão, enquanto que, em Atos, "batismo com o Espírito" se refere a uma experiência de confirmação e autenticação. Por outro lado, Stott afirma que em 1 Coríntios e em Atos, a expressão designa a mesma coisa, ou seja, conversão.
Não podemos entrar de forma profunda aqui neste artigo na questão do batismo com o Espírito Santo nos Evangelhos e no livro de Atos, mas podemos no mínimo afirmar que, em alguns dos casos narrados em Atos, o batismo com o Espírito ocorreu com pessoas que já eram crentes, como os discípulos em Pentecostes (At 2.1-4; cf. Jo 13.10; 15.3; Lc 10.20), e provavelmente os samaritanos (At 8.14-18; cf. 8.12). Somente em uma ocasião o batismo com o Espírito ocorreu claramente ao mesmo tempo que a conversão, que foi durante a pregação de Pedro na casa de Cornélio.
Os estudiosos têm tirado conclusões diferentes destes fatos. Lloyd-Jones, como vimos, conclui que tais fatos estabelecem a norma e a terminologia para todas as épocas da Igreja. Contudo, parece-nos que as experiências narradas em Atos são melhor entendidas à luz do contexto histórico em que ocorreram, à luz daquele período especial de transição, em que o Evangelho estava se universalizando, passando dos judeus para os gentios, um processo onde era necessário que manifestações extraordinárias acompanhassem os diferentes estágios desta transição, como uma forma de autenticação das mesmas. Esta é a convicção de Stott. Entendemos que MacArthur expressa bem esse ponto de vista, ao escrever o seguinte sobre a experiência dos samaritanos:
• Aqueles crentes em particular tiveram de esperar pelo Espírito Santo, mas não lhes foi dito que deviam buscá-lo. O propósito daquela exceção era demonstrar aos apóstolos, e fazer ouvir entre os crentes judeus em geral, que o mesmo Espírito que havia batizado e enchido os crentes judeus, agora havia feito o mesmo com os crentes samaritanos, exatamente como, em pouco tempo, Pedro e outros judeus crentes, haveriam de ser enviados como testemunhas à casa de Cornélio, do fato de que "o Espírito havia também sido derramado sobre os gentios" (At 10.44-45).49
Não entendemos que as experiências narradas em Atos, onde houve um intervalo entre conversão e batismo com o Espírito, sejam a norma para as demais etapas da Igreja de Cristo, após o período de transição ter-se completado, e nem que a terminologia "batismo com o Espírito" deva ser usada para experiências posteriores à conversão. Se tivéssemos de tomar algum evento como normativo, tomaríamos a experiência dos três mil no dia de Pentecostes, que num mesmo evento se converteram, receberam o Espírito, e foram batizados com aquele mesmo Espírito (cf. At 2.38).
Parece-me, concluindo, que a dificuldade com a posição de Lloyd-Jones é essencialmente uma questão de terminologia. Creio que ele está correto em sua tese fundamental. Ou seja, que a plenitude das bênçãos espirituais que recebemos em nossa conversão não esvaziam, necessariamente, a possibilidade de termos experiências espirituais profundas após a mesma, que envolvam o crente como um todo, que atinjam as suas emoções e transformem a sua vida, que o conduzam a níveis ainda mais elevados de vida cristã. A História Eclesiástica demonstra eloqüentemente a possibilidade destas experiências.
Porém, não estou convencido de que possamos usar a terminologia do "batismo com o Espírito Santo" para designá-las. Esta terminologia, na minha opinião, foi utilizada para expressar no início da Igreja os eventos únicos relacionados com as etapas da universalização do Reino, relatos esses expostos no livro de Atos. À parte do que está narrado no livro de Atos, as Escrituras não aparentam reconhecer qualquer intervalo entre a conversão e o batismo com o Espírito Santo. Assim, a expressão é corretamente empregada hoje para designar a experiência universal de todos os crentes, ao receberem a Cristo pela fé em seus corações. Ao mesmo tempo, é de se lamentar profundamente que, ao reagir contra os abusos e exageros de muitos que professam ter recebido um "batismo com o Espírito", vários estudiosos conservadores tenham adotado uma posição onde há pouco, ou nenhum, lugar para novos derramamentos do Espírito, para reavivamentos e experiências espirituais profundas e ricas com Deus.
1 Por exemplo, em 1994 um Presbitério da Igreja Presbiteriana do Brasil encaminhou uma consulta ao Supremo Concílio, onde perguntava: "O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder para o serviço (como defende o teólogo D. Martyn Lloyd-Jones), ou é algo que todo cristão recebe uma única vez no momento de sua conversão (como defende o teólogo John Stott)?"
2 As citações bíblicas são da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo onde indicado diferentemente.
3 Lloyd-Jones só tratou deste assunto ao se deparar, no decorrer de suas mensagens em série sobre um livro da Bíblia, com uma passagem diretamente relacionada com o tema, como por exemplo, Ef 1.13 e Rm 8.16.
4 As diferenças entre ambos chegaram a um ponto crítico em 1966, durante o culto de abertura da Evangelical Alliance, em Londres. Lloyd-Jones era o conferencista principal, e Stott era o chairman do evento. A diferença se deu após a mensagem de abertura de Lloyd-Jones, quando Stott publicamente repudiou a sua sugestão de se formar uma nova união de evangélicos. Veja os detalhes em Iain Murray, David Martyn Lloyd-Jones: The Fight of Faith 1939-1981 (Edinburgo: Banner of Truth, 1990) 522-7.
5 D. Martyn Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose: An Exposition of Ephesians 1.1 to 23 (Grand Rapids: Baker Book House, 1978; reimpressão, 1979).
6 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 243-300.
7 D. Martyn Lloyd-Jones, Romans: An Exposition of Chapter 8.5-17: The Sons of God (Grand Rapids: Zondervan, 1974; oitava reimpressão, 1982).
8 Lloyd-Jones, The Sons of God, 285-399.
9 D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable: Power & Renewal in the Holy Spirit ( Illinois: Harold Shaw Publishers, 1984) 13.
10 Os demais sermões da série foram publicados no livro Prove All Things (Londres: Kingsway, 1985), onde Lloyd-Jones apresenta os critérios bíblicos através dos quais podemos avaliar as manifestações espirituais quanto à sua autenticidade. No Brasil, Joy Unspeakable tem recebido muito mais ênfase, enquanto que Prove All Things, que é o seu complemento indispensável, é praticamente desconhecido.
11 Para uma exposição e análise do ensino de Lloyd-Jones sobre o batismo com o Espírito Santo, ver Michael A. Eaton, Baptism with the Spirit: The Teaching of Dr. Martyn Lloyd-Jones (London: Intervarsity Press, 1989). Também, Murray, Lloyd-Jones, 483-92.
12 Ver, por exemplo, Prove All Things, 47-49; 57-59; 85, 95-97; etc. Também, ver Joy Unspeakable, 18.
13 Murray, Lloyd-Jones, 486.
14 Estas idéias haviam sido defendidas particularmente por Stott em seu livro Baptism and Fullness of the Spirit (ver adiante nota 50). Lloyd-Jones havia lido e anotado esta obra, antes de pregar a séries de mensagens que deram origem ao livro Joy Unspeakable.
15 Emprego esse neologismo "experienciável" na tentativa de melhor expressar o sentido da palavra inglesa "experimental".
16 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 248-49, 283.
17 Ibid., 275-8. Veja também, Lloyd-Jones, The Sons of God, 315-323
18 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 248-50, 267-8.
19 Ibid., 261-3.
20 Ibid., 294-5.
21 Ibid., 246-7; ver ainda p. 265.
22 Ibid., 249, 264, 274.
23 Lloyd-Jones, The Sons of God, 296-300.
24 Ibid., 310.
25 Cf. Lc 12.50.
26 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 267-68. Ver ainda The Sons of God, 314; Joy Unspeakable, 173-9.
27 Lloyd-Jones, Joy Unspeakable, 174-6.
28 Lloyd-Jones, The Sons of God, 314-5; Joy Unspeakable, 177
29 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 280-2.
30 Mas, mesmo assim, Lloyd-Jones deixa claro que o intervalo de tempo entre as duas coisas pode ser extremamente curto, cf. Ibid., 253-4.
31 Estes eventos se encontram narrados em Murray, Lloyd-Jones, 485. Embora essa biografia seja sobre Lloyd-Jones, Murray narra em detalhes fatos relacionados com as principais figuras evangélicas da Inglaterra envolvidas com o seu ministério.
32 John R. W. Stott, The Baptism and Fullness of the Holy Spirit (Illinois: Intervarsity Press, 1964).
33 John R. W. Stott, Baptism & Fullness: The Work of the Holy Spirit Today (Illinois: Intervarsity Press, 1975).
34 Ver Stott, Baptism & Fullness, 9.
35 John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo, trad. Hans U. Fuchs (São Paulo: Vida Nova, 1966; 2ª edição, 1986). As referências serão feitas à obra original em Inglês, em sua 2ª edição.
36 Stott, Baptism & Fullness, 36-38.
37 Ibid., 37.
38 Ibid., 38.
39 Ibid., 38-40.
40 John Stott, A Mensagem de Atos, em A Bíblia Fala Hoje, eds. J. A. Motyer e J. R. W. Stott (São Paulo: ABU, 1994) 172.
41 Stott, Baptism & Fullness, 40.
42 Ibid.
43 Ibid., 40-42.
44 Ibid., 42-43.
45 Ibid., 43.
46 É interessante observar, porém, que a preposição ei)j ligada ao verbo bapti/zw nem sempre indica o propósito do batismo. Em Mc. 1.9 indica o elemento do batismo, ou seja, o rio Jordão. Às vezes, indica referência ou relação, como por exemplo, onde o nome ou a pessoa de Jesus é mencionada, cf. Mt. 28.19; At 8.16; 19.5; Rm. 6.3. E mesmo pode indicar o tipo de batismo, ver At 19.3 ou a causa do batismo, Mt. 3.11. Em1 Co 12.13 indica o alvo do batismo, que é incorporar o crente no corpo de Cristo.
47 Entre as traduções modernas em Inglês que adotam "por" estão: KJV, NKJV, AV, RSV, NEB, NIV, NAS, TEV, GNB, NCV, Phillips, Mofatt, etc. Em Português, quase que a maioria das traduções prefere "em". Os comentários estão divididos. Alguns preferem "por" (Calvino, Clark, Hodge, Kistemaker, Chafin, MacArthur, Bengel, Alford); outros, "em" ou "com" (Morris, Findlay, Lenski, Goud, Grosheide, Robertson & Plummer).
48 Cf. Stott, Atos, 172.
49 John MacArthur, 1 Corinthians, em The MacArthur New Testament Commentary (Chicago: Moody Press, 1984) 313.
Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes*
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O debate na Igreja brasileira sobre o batismo com o Espírito Santo tem sido às vezes conduzido em torno das figuras do (já falecido) Dr. Martyn Lloyd-Jones e do Dr. John Stott.1 Mais particularmente, o debate tem girado em torno das suas interpretações da conhecida passagem de Paulo em 1 Coríntios 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.2 A passagem é crucial para o debate, já que é a única, fora dos Evangelhos e de Atos, que traz juntas palavras como "todos", "Espírito", "batizar", "corpo", e "beber". Alguns defensores do batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, referem-se ao Dr. Lloyd-Jones como exemplo de um teólogo reformado e puritano que defende essa posição. Os do campo contrário, referem-se ao Dr. Stott como um teólogo de renome mundial que sustenta ser o batismo com o Espírito Santo idêntico à conversão.
Duas observações iniciais sobre esta realidade. Primeira, o debate sobre o batismo com o Espírito Santo tem encontrado muito mais participantes ilustres do que apenas Lloyd-Jones e Stott. Existem muitos livros e artigos defendendo uma e outra posição, escritos por teólogos conhecidos e de diferentes persuasões teológicas. O fato de que, no Brasil, esta polêmica desenvolve-se em torno dos nomes de Lloyd-Jones e de Stott deve-se ao simples fato de que ambos tiveram suas obras traduzidas para o português, e outros não. E a segunda observação decorre deste último ponto: a doutrina do batismo com o Espírito Santo não é a principal ênfase dos ministérios de Lloyd-Jones e Stott.3 Ambos falaram e escreveram sobre muitos outros assuntos. Mas o fato é que, no Brasil, por falta de autores nacionais que escrevam claramente sobre o assunto, e que tomem uma posição definida, e também por causa das poucas traduções em português de livros sobre o tema, o debate desenvolveu-se mesmo em torno desses dois nomes.
Também é importante lembrar que esses dois importantes líderes não se envolveram pessoalmente em disputa pública sobre esse ponto específico. São alguns de entre os seus seguidores e admiradores que têm usado seus escritos para debater as diferenças que a discussão moderna sobre o assunto tem levantado. Lloyd-Jones e Stott, na verdade, estiveram envolvidos em outro tipo de polêmica, mais especificamente com relação a eclesiologia, e a unidade dos evangélicos.
Partindo então da inevitável realidade de que teremos de lidar com Lloyd-Jones e Stott ao nos referirmos à questão do batismo com o Espírito Santo em um artigo destinado a pastores e líderes brasileiros, tentaremos aqui dar uma colaboração ao debate através de uma apresentação e análise da posição de ambos, particularmente à luz da maneira como interpretam 1 Co 12.13.
- LLOYD-JONES E 1 CO 12.13
Vamos começar com Martyn Lloyd-Jones, por uma questão de cronologia. Sua opinião sobre o batismo com o Espírito Santo, e sua interpretação de 1 Co 12.13, podem ser encontradas em três de suas obras principais. Primeiro, em God’s Ultimate Purpose, o primeiro volume de sua famosa série de sermões na carta aos Efésios, pregados nos anos 1954-1955, durante seu ministério na Capela de Westminster, Londres.5 Ele expõe Efésios 1.13 em seis capítulos, quando então aborda o tema do batismo com o Espírito Santo.6 Segundo, no volume da sua série em Romanos, entitulado The Sons of God, onde ele expõe Romanos 8.5-17.7 Esse volume contém os sermões pregados em Romanos durante os anos 1960-1961, dos quais oito tratam de Rm 8.16, uma passagem que, segundo Lloyd-Jones, refere-se ao batismo com o Espírito Santo.8 Por fim, em seu livro Joy Unspeakable, publicado em 1984, que é a transcrição de vinte e quatro sermões pregados em 1964 na Capela de Westminster, Inglaterra, numa série em João 1.26-33.9 Nesta obra, Lloyd-Jones trata de forma detalhada da sua posição sobre o batismo com o Espírito Santo, e de 1 Co 12.13.10 Procuraremos resumir, partindo destas fontes, a sua interpretação da passagem.11
- O CONTEXTO DO ENSINO DE LLOYD-JONES
Devemos estar conscientes do contexto em que Lloyd-Jones aborda esse assunto. Ele estava reagindo a duas tendências de sua época, as quais considerava perniciosas para a vida da Igreja. Em primeiro lugar, contra o nascente movimento de "línguas", em Londres, cujos proponentes reivindicavam terem sido "batizados com o Espírito", e colocavam a ênfase maior no dom de línguas. Lloyd-Jones freqüentemente adverte contra os perigos do fanatismo, misticismo, e abusos nesta área,12 fato que às vezes tem sido esquecido por alguns que usam seus escritos para promover conceitos e práticas carismáticos.
Lloyd-Jones enfrentava ao mesmo tempo um tipo de ensino aparentemente ortodoxo que ele considerava ainda mais pernicioso à vida da Igreja do que os excessos dos carismáticos. Basta que leiamos os capítulos 21—25 do seu livro God’s Ultimate Purpose para verificarmos que, na maioria das vezes, ele está reagindo, não aos excessos do movimento carismático nascente, mas ao tipo de ensino que dizia que os crentes já tinham recebido tudo por ocasião da sua conversão, e que não mais precisavam buscar a plenitude do Espírito ou um nível maior de vida espiritual.13 Era esse Cristianismo antiemocional e intelectualista que prevalecia nas Igrejas evangélicas da Inglaterra. Para muitos pastores e estudiosos daquela época, todos os crentes já haviam recebido tudo do Espírito na sua conversão, e o que restava era irem se apropriando destes benefícios gradativamente, na vida cristã.14 Para eles, quase todos os aspectos da obra redentora e santificadora do Espírito Santo ocorriam num âmbito não "experienciável",15 e atividades do Espírito como o "selo" (Ef 1.13) e o "testemunho ao nosso espírito" (Rm 8.16) eram encarados como se processando em um nível intelectual, ou acima da nossa capacidade de sentir ou experimentar. Outros ensinavam que todas estas coisas eram para ser tomadas "pela fé", independentemente dos sentimentos ou das emoções.
Para Lloyd-Jones, esse tipo de ensino era responsável em grande parte pelo fato de a maioria dos cristãos na Europa desconhecerem um Cristianismo vigoroso, "experienciável", e de praticarem uma religião fria, sem emoções, e destituída de vigor e vida. Como pastor de formação puritana, Lloyd-Jones reagiu fortemente a esse tipo de ensino que acabava por negar o caráter "experienciável" da fé em Cristo, e o lugar das emoções na experiência cristã. Mas, o seu maior conflito com esses teólogos era que tal ensinamento, na sua opinião, não deixava lugar para reavivamentos espirituais, para novos derramamentos do Espírito sobre a Igreja.
Por esse motivo, ele abordou o assunto do batismo com o Espírito Santo muito mais em reação à frieza espiritual da sua época, do que em reação ao movimento carismático, que estava apenas em seus inícios naqueles dias.
- O SELO DO ESPÍRITO E O BATISMO COM O ESPÍRITO
Ao expor Ef 1.13, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, Lloyd-Jones segue a interpretação de alguns teólogos Puritanos (Thomas Goodwin, John Owen, Charles Simeon, Richard Sibbes), e do famoso Charles Hodge de Princeton, que defendiam que esse "selo" não é a mesma coisa que a conversão, e pode ocorrer depois.16 A principal ênfase de Lloyd-Jones em sua exposição da passagem é que esse "selo" é algo que pode ser experimentado, sentido e identificado pelos crentes, e que não se trata de algo que já ocorreu automaticamente com todos eles na sua conversão. Como demonstração, ele menciona experiências de personagens famosos na História da Igreja, como John Flavel, Jonathan Edwards, D. L. Moody, Christmas Evans, George Whitefield e John Wesley.17
Trata-se de uma experiência, diz Lloyd-Jones, e não de um processo. Assim, é algo que deve ser buscado por cada um.18 Também não devemos confundir o "selo" com a plenitude do Espírito, e nem com a santificação;19 o "selo" também não é algo a ser "apropriado pela fé", como ensinam alguns pregadores e escritores:20 ele funciona como uma autenticação de Deus de que de fato pertencemos a ele, algo semelhante ao ocorrido com o Senhor Jesus quando foi batizado (comparar Jo 1.32-34 com 5.27).21
Lloyd-Jones identifica esse "selar" do Espírito com o "batismo" do Espírito, experimentado pelos apóstolos no dia de Pentecostes, e ainda pelos samaritanos, Cornélio e sua casa, e os discípulos de João Batista em Éfeso.22
- O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO E O BATISMO COM O ESPÍRITO
Em sua exposição de Romanos 8.16, Lloyd-Jones afirma que o testemunho do Espírito ao nosso próprio espírito é mais do que o resultado de um processo racional, pelo qual o crente chega à certeza da salvação. Segundo ele, trata-se de uma certeza dada de forma imediata (sem o uso de meios) pelo Espírito, diretamente à nossa consciência. Portanto, é algo da mesma ordem que o "selo" ou batismo com o Espírito.23 É algo distinto da conversão, que ocorre após a mesma, às vezes em um intervalo de tempo extremamente breve.24
- 1 CORÍNTIOS 12:13
Lloyd-Jones está consciente de que alguns apelarão para 1 Co 12.13 para contradizer seu ponto de vista. Para ele, a passagem ensina de fato que o Espírito Santo batiza o crente, colocando-o no corpo de Cristo que é a Igreja, e que isto ocorre na conversão, e que, portanto, todos os cristãos já foram objeto desta atividade do Espírito. Porém, ele argumenta, esse "batismo" de 1 Co 12.13 não é o mesmo "batismo" ou "selo" do Espírito mencionado nos Evangelhos e em Atos. O que ocorre é que a palavra "batismo" é empregada no Novo Testamento com vários sentidos diferentes.25 Para ele, o batismo pelo Espírito em 1 Co 12.13 significa o ato pelo qual o Espírito nos incorpora à Igreja, e que portanto é idêntico à conversão, ao passo que, nos Evangelhos, e principalmente em Atos, o batismo com o Espírito refere-se a uma experiência pós-conversão, confirmatória e autenticadora em sua essência.26
Lloyd-Jones argumenta que uma das diferenças decisivas entre 1 Co 12.13 e as passagens em Atos sobre o batismo com o Espírito Santo, é quanto ao agente do batismo, ou seja, a pessoa que batiza. Ele acredita que na expressão e)n e(ni/ pneu/mati h(mei=j pa/ntej ei)j e(\\\\\\\\n sw=ma e)bapti/sqhmen a preposição e)n tem força instrumental, e que deve, portanto, ser traduzida "por um só Espírito", e não "em um só Espírito". Ele argumenta que "por" é a tradução da maioria das versões em Inglês, e que a preposição e)n ocorre em várias outras ocasiões no Novo Testamento com a mesma força instrumental (ele cita Mt 7.6; 26.52; Lc 1.51; Rm 5.9). Ele cita ainda várias outras autoridades na área de exegese que mantém esta opinião.27 Ele conclui que, em 1 Co 12.13, é o Espírito quem nos batiza no corpo de Cristo. Nas demais passagens, o agente é o Senhor Jesus, o que é algo muito diferente. A confusão existe pelo fato de que a mesma palavra "batismo" é usada.28 Em 1 Co 12.13 ela se refere à conversão, mas nas demais passagens, a uma experiência posterior à conversão, e portanto, distinta da mesma.
- ERA LLOYD-JONES UM CARISMÁTICO?
Em resumo, para Lloyd-Jones, o batismo com o Espírito Santo é uma experiência na qual o Espírito concede ao crente plena certeza de fé, e que deve ser identificada com o selo e o testemunho do Espírito mencionados por Paulo. Esta experiência resulta em poder e ousadia, que por sua vez, capacitam o crente a testemunhar eficazmente de Cristo.
É extremamente importante notar que o pensamento de Lloyd-Jones sobre o selo ou batismo do Espírito, é essencialmente diferente da posição pentecostal clássica, e da posição neopentecostal. Lloyd-Jones não vê nenhuma evidência bíblica de que esta experiência deva ser acompanhada pelo falar em línguas e pelo profetizar, ou por qualquer outra manifestação extraordinária. Na verdade, ele chama a atenção para o fato de que muitos dos dons que foram concedidos no início da Igreja Cristã não haviam sido mais concedidos no desenrolar desta mesma história. Ele aponta para o fato de que nenhum dos grandes nomes da História da Igreja, conhecidos como tendo passado por experiências profundas com o Espírito (que ele considera como tendo sido esse "selar" ou "batizar" do Espírito) terem manifestado dons como línguas, profecia, ou milagres. Para Lloyd-Jones, o ponto essencial desta experiência também não é a capacitação de poder, como enfatizado em círculos pentecostais e carismáticos, mas a certeza dada de forma direta, pelo Espírito, de que somos filhos de Deus.29
Como já mecionamos, ao mesmo tempo em que estava reagindo contra o Cristianismo frio e árido de sua época, Lloyd-Jones também estava em combate contra várias ênfases do nascente movimento carismático. Talvez o único ponto em que ele estivesse em acordo com eles é que o "selo" (batismo) do Espírito é algo distinto da conversão, e que ocorre após a mesma.30 As diferenças quanto ao propósito e às evidências deste evento são por demais distintas das convicções pentecostais-carismáticas, para que venhamos a classificar Lloyd-Jones como um carismático.
- STOTT E 1 CORÍNTIOS12.13
Passemos agora para a opinião de John Stott. Conhecido pregador e escritor, Stott é ministro da Igreja Anglicana da Inglaterra. Em 1964 ele fez uma série de estudos numa conferência para líderes evangélicos sobre a obra do Espírito Santo, os dons espirituais, e especialmente, sobre o batismo com o Espírito Santo. Estas palestras foram uma reação de Stott ao crescente Pentecostalismo dentro da sua própria paróquia.31 As palestras vieram ao grande público em 1966, num livrete intitulado The Baptism and Fullness of the Holy Spirit,32 após os sermões de Lloyd-Jones sobre o assunto já terem sido impressos. Dez anos após Stott publicou uma segunda edição, entitulada Baptism & Fullness: The Work of the Holy Spirit Today,33 onde ampliou algumas partes que precisavam de mais clareza e fundamentação, sem, entretanto, alterar seus pontos de vista.34 Esta obra foi traduzida e publicada em Português em 1986, como Batismo e Plenitude do Espírito Santo.35 Nela, Stott trata dos principais aspectos da obra do Espírito relacionados com a polêmica moderna, tais como a promessa do Espírito, o batismo do Espírito, a plenitude, o fruto e os dons do Espírito. Procuraremos nos concentrar na sua interpretação de 1 Co 12.13.
- UMA EXPERIÊNCIA INICIATÓRIA
Stott argumenta que a expressão "batismo com o Espírito Santo", que ocorre sete vezes no Novo Testamento, é equivalente à expressão "o dom do Espírito Santo" que ocorre em At 2.38, e refere-se à experiência iniciatória da qual participam todos os que se tornam cristãos.36 O próprio conceito de "batismo com água" é iniciatório, como sendo o ritual público de introdução na Igreja, e está intimamente associado ao batismo com o Espírito Santo, como sugere At 10.47, 11.16 e 19.2-3.37 Ele argumenta que a linguagem empregada por Paulo para descrever a experiência cristã com o Espírito, como "estar no Espírito", "ter o Espírito", "viver pelo Espírito", e "ser guiado pelo Espírito", é aplicada nas cartas do apóstolo a todos os cristãos, indistintamente, até mesmo para os recém convertidos, a partir do momento em que se tornam cristãos. O Novo Testamento, continua Stott, presume que Deus tem dado o Espírito a todos os cristãos, cf. Rm 8.9; Gl 5.25; Rm 8.14.38
Das sete vezes em que a expressão "ser batizado com o Espírito Santo" ocorre no Novo Testamento, somente uma vez é fora dos Evangelhos e de Atos (ou seja, em 1Co 12.13). Stott lembra que, nos Evangelhos, a expressão aparece quatro vezes nos lábios de João Batista, ao descrever o ministério do Senhor Jesus, "ele vos batizará com o Espírito Santo" (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Em Atos, uma vez é aplicada pelo Senhor a Pentecostes (At 1.5), e outra é aplicada por Pedro à conversão de Cornélio, citando as palavras do Senhor Jesus (At 11.16).
A sétima vez é em 1 Co 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Stott contesta que, aqui, Paulo esteja se referindo ao Dia de Pentecoste, já que nem ele, nem os coríntios, participaram daquele evento histórico. Paulo está se referindo à participação nas bênçãos que Pentecoste tornou possível aos cristãos. Ele e os coríntios tinham recebido o Espírito Santo; aliás, para usar a terminologia de Paulo, tinham sido "batizados" com o Espírito Santo, e tinham "bebido" deste mesmo Espírito.
Stott aponta para o fato de Paulo estar enfatizando a unidade no Espírito no contexto da passagem, em contraste deliberado à variedade dos dons espirituais, assunto que o apóstolo havia discutido na primeira parte de 1 Co 12. Esse ponto é evidente pela repetição da palavra "todos" (todos...foram batizados, todos...beberam) e da expressão "um só" (um só Espírito... em um só corpo... de um só Espírito). O que Paulo está fazendo aqui, afirma Stott, é sublinhar aquela experiência com o Espírito Santo que todos os cristãos têm em comum. Esta é a diferença entre "o dom do Espírito" (quer dizer, o próprio Espírito Santo), e "os dons do Espírito" (isto é, os dons espirituais que ele distribui). Neste capítulo Paulo emprega várias vezes uma terminologia onde a unidade dos cristãos é destacada, cf. 12.4,8,9,11,13. O clímax é 12.13, onde o apóstolo afirma que em um só Espírito todos nós fomos batizados em um corpo. A expressão de Paulo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, bem pode ser uma alusão a "toda a carne" mencionada na profecia de Joel. Stott conclui que o batismo com o Espírito Santo não é uma segunda experiência, nem uma experiência subseqüente desfrutada somente por alguns cristãos, mas a experiência inicial desfrutada por todos.39 Ou seja, o batismo com o Espírito é o mesmo que conversão.
No seu recente comentário em Atos, Stott procura deixar claro que não nega que haja experiências mais profundas e mais ricas após a conversão. Porém, ele rejeita a idéia de que tais coisas possam ser chamadas de "batismo com o Espírito", uma terminologia que ele reserva apenas para a conversão, a obra inicial do Espírito no crente.40 É importante notar que, para ele, as passagens nos Evangelhos e em Atos devem ser interpretadas à luz da passagem de Corintios, e portanto, devem se referir à conversão, quando o crente recebe tudo o que lhe é dado receber do Espírito. É sintomático que no seu livro Baptism & Fullness não exista nem uma palavra sobre reavivamento espiritual. Stott aparentemente não nega a possibilidade da ocorrência de um reavivamento em nossos dias, mas certamente não é um dos seus proponentes mais entusiastas.
- BATISMO "PELO", "COM", OU "NO" ESPÍRITO?
Em seguida, Stott passa a responder às objeções que geralmente são levantadas contra sua interpretação de 1 Co 12.13. Inicialmente, ele aborda o argumento de que as outras seis passagens, que se referem ao "batismo com o Espírito Santo", tratam do batismo feito por Jesus em, ou com, o Espírito Santo, enquanto que 1 Co 12.13 trata do batismo realizado pelo Espírito no corpo de Cristo, algo completamente diferente. Os defensores desta posição, esclarece Stott, concordam que o Espírito Santo batizou a todos os crentes no corpo de Cristo, mas isto não prova, para eles, que Cristo batizou a todos com o Espírito Santo. Stott afirma que esse tipo de argumentação é um exemplo de se tentar defender o indefensável, e passa, então, a refutá-la como se segue.41
Em todas as sete ocorrências da frase, a idéia de batismo é expressa pelas mesmas palavras gregas bapti/zw, e)n, pneu=ma, e portanto, a priori, deve ser entendida como se referindo à mesma experiência de batismo. Esta é uma regra sadia de interpretação, diz Stott, e cabe aos que pensam o contrário apresentar provas de que ela não se aplica aqui. A interpretação natural é que Paulo estaria em 1 Co 12.13 ecoando as palavras de João Batista, como Jesus e Pedro haviam feito antes dele (At 1.15; 11.16). É estranho tomar Jesus como o batizador nas seis primeiras passagens, e então, na sétima, tomar o Espírito como sendo o batizador, já que as expressões são idênticas. A preposição grega em 12.13 é e)n, como nos demais versículos, onde é traduzida como "com". Por quê, pergunta Stott, deveria ser traduzida diferentemente?42
- OS QUATRO ELEMENTOS DE TODO BATISMO
Ele então defende esse ponto com o argumento de que em qualquer tipo de batismo existem quatro partes: (1) o sujeito, que é o batizador, (2) o objeto, que é a pessoa sendo batizada, (3) o elemento em, ou no qual a pessoa é batizada, e (4) o propósito com o qual o batismo é realizado. Como exemplo, ele cita o "batismo" dos israelitas no Mar Vermelho (cf. 1 Co 10.1-2). Deus foi o batizador, os israelitas foram os batizandos, o elemento em que foram batizados foi água, ou vapor que caia das nuvens, e o propósito é indicado pela expressão "batizados em Moisés", isto é, para um relacionamento com Moisés como o líder apontado por Deus. O batismo de João, igualmente, tem quatro partes: João (o sujeito) batizou as multidões que vinham de Jerusalém e regiões circunvizinhas (os batizandos) nas (e)n) águas do Rio Jordão (elemento) para (ei)j) arrependimento e, portanto, remissão de pecados, cf. Mt 3.5,11. O batismo cristão é similar, continua Stott. O pastor (sujeito) batiza o candidato (objeto) na, ou com, água (elemento), e o batismo é ei)j, "para" o nome da Trindade, ou mais especificamente, para o nome de Cristo (Mt 28.19; At 8.16). O batismo do Espírito não é exceção a esta regra, conclui Stott. Se colocarmos as sete referências juntas, verificaremos que Jesus Cristo é o batizador (sujeito), todos os crentes (1 Co 12.13) são os batizandos (objeto), o Espírito Santo é o "elemento" com o qual (e)n ) somos batizados, e o propósito (ei)j) é a incorporação do crente no corpo de Cristo.43
Stott reconhece que alguém poderia objetar que estas quatro partes não aparecem claramente em todos as sete passagens mencionadas. Por exemplo, o sujeito (o batizador) não aparece em 1 Co 12.13. Para Stott, isto não é problema: Jesus Cristo é o batizador implícito da passagem, assim como também em At 1.5 e 11.16. Ele não é mencionado porque nestas passagens o verbo "batizar" está na voz passiva, e a ênfase recai sobre as pessoas sendo batizadas, enquanto que o sujeito da ação recua para os bastidores.
Ele ainda argumenta que, se o Espírito é quem batiza em 1 Co 12.13, então, onde está o elemento com o qual ele batiza? Stott considera a falta de resposta a esta pergunta como sendo conclusiva de que sua interpretação é a correta, já que a metáfora do batismo requer um elemento. De outra forma, "batismo não é batismo".44 Ele conclui que 1 Co 12.13 refere-se a Cristo batizando com o Espírito Santo, e nos fazendo beber do Espírito, e que "todos nós" temos participado desta bênção (cf. Jo 7.37-39). Esta conclusão é reforçada pelo tempo dos dois verbos, "batizar" e "beber", ambos no aoristo, e que se referem, não a Pentecoste, mas à bênção pessoal recebida pelos cristãos em sua conversão.45
- UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA
O quadro abaixo poderá nos ajudar a visualizar o pensamento destes dois eminentes servos de Deus sobre 1 Co 12.13.
- EM QUE LLOYD-JONES E STOTT CONCORDAM
Não há diferença entre eles quanto aos batizandos (aqueles sendo batizados) de 1 Co 12.13, e nem de fato deveria haver. Com a expressão todos nós Paulo se refere aos crentes em geral, e não somente a si mesmo e aos coríntios. Paulo está descrevendo na passagem uma experiência que une todos os cristãos, independente de raça, sexo, ou status social, e que isto o apóstolo faz porque seu objetivo, na segunda parte de 1 Co 12, é enfatizar a unidade dos cristãos, em contraste com a diversidade dos seus dons. Colocado dentro desta perspectiva, fica pouca dúvida de que 12.13 esteja se referindo a uma experiência na qual todos os cristãos participam.
Da mesma forma, o propósito deste batismo é claramente indicado pela preposição ei)j.46 Ou seja, "colocar" o crente no corpo, que é a Igreja. Ambos concordam que esse é o alvo do batismo na passagem, e portanto, também concordam que o batismo mencionado é o mesmo que a conversão.
- EM QUE LLOYD-JONES E STOTT DIFEREM
A tradução de e)n
Em primeiro lugar, analisemos a tradução da preposição e)n e a sua relação com o batizador, ou o agente do batismo. Não é fácil decidir sobre quem está certo, se Lloyd-Jones com a tradução "por", ou se Stott, com a tradução "com" ou "em". Todas são gramaticalmente possíveis. A decisão, finalmente, não será uma questão de gramática ou sintaxe, mas de teologia, das pressuposições teológicas que cada exegeta traz consigo ao analisar a passagem.
A favor da tradução "por um só Espírito" (Lloyd-Jones) está o fato de que esta é a tradução adotada pela maioria das traduções nas línguas modernas.47 Contra, está o fato de que esta tradução faz com que a passagem seja a única no Novo Testamento a fazer do Espírito Santo o agente do batismo, e não o elemento com o qual o crente é batizado. Mas, para Lloyd-Jones, isto não é dificuldade, pois o batismo "pelo" Espírito é de fato distinto do batismo "com" ou "no" Espírito. E esta é a pressuposição com a qual ele se aproxima de 1 Co 12.13, ou seja, que o batismo com o Espírito mencionado nos Evangelhos e no livro de Atos é uma experiência distinta da conversão.
A favor de Stott está o fato de que, nas demais ocorrências da expressão, a preposição pode ser traduzida por "com" ou "no" Espírito. Ao analisar 1 Co 12.13 à luz das seis outras ocorrências da expressão "ser batizado com o Espírito Santo", Stott utiliza-se de um princípio sadio e sólido de exegese bíblica: uma passagem da Escritura deve ser interpretada à luz de outras passagens que tratem do mesmo tema. Contra sua interpretação está o fato de que, em última análise, sua posição exige que a conversão dos apóstolos, dos samaritanos e dos discípulos de João Batista, narradas em Atos, tenha ocorrido na mesma ocasião em que foram batizados com o Espírito. Esta posição é insustentável, do nosso ponto de vista, já que, pelo menos no caso dos apóstolos, é evidente que eles já eram regenerados quando foram batizados com o Espírito Santo. Porém, se considerarmos as experiências de Atos como exceções, o caso muda de figura. É isto que Stott eventualmente faz.48
- A RELAÇÃO ENTRE 1 CO 12.13 E AS EXPERIÊNCIAS NO LIVRO DE ATOS
Em segundo lugar, ambos divergem com respeito à relação entre 1 Co 12.13 e as demais passagens paralelas nos Evangelhos e Atos. Como vimos, Lloyd-Jones sustenta que se tratam de experiências diferentes: em 1 Coríntios "batismo pelo Espírito" se refere à conversão, enquanto que, em Atos, "batismo com o Espírito" se refere a uma experiência de confirmação e autenticação. Por outro lado, Stott afirma que em 1 Coríntios e em Atos, a expressão designa a mesma coisa, ou seja, conversão.
Não podemos entrar de forma profunda aqui neste artigo na questão do batismo com o Espírito Santo nos Evangelhos e no livro de Atos, mas podemos no mínimo afirmar que, em alguns dos casos narrados em Atos, o batismo com o Espírito ocorreu com pessoas que já eram crentes, como os discípulos em Pentecostes (At 2.1-4; cf. Jo 13.10; 15.3; Lc 10.20), e provavelmente os samaritanos (At 8.14-18; cf. 8.12). Somente em uma ocasião o batismo com o Espírito ocorreu claramente ao mesmo tempo que a conversão, que foi durante a pregação de Pedro na casa de Cornélio.
Os estudiosos têm tirado conclusões diferentes destes fatos. Lloyd-Jones, como vimos, conclui que tais fatos estabelecem a norma e a terminologia para todas as épocas da Igreja. Contudo, parece-nos que as experiências narradas em Atos são melhor entendidas à luz do contexto histórico em que ocorreram, à luz daquele período especial de transição, em que o Evangelho estava se universalizando, passando dos judeus para os gentios, um processo onde era necessário que manifestações extraordinárias acompanhassem os diferentes estágios desta transição, como uma forma de autenticação das mesmas. Esta é a convicção de Stott. Entendemos que MacArthur expressa bem esse ponto de vista, ao escrever o seguinte sobre a experiência dos samaritanos:
• Aqueles crentes em particular tiveram de esperar pelo Espírito Santo, mas não lhes foi dito que deviam buscá-lo. O propósito daquela exceção era demonstrar aos apóstolos, e fazer ouvir entre os crentes judeus em geral, que o mesmo Espírito que havia batizado e enchido os crentes judeus, agora havia feito o mesmo com os crentes samaritanos, exatamente como, em pouco tempo, Pedro e outros judeus crentes, haveriam de ser enviados como testemunhas à casa de Cornélio, do fato de que "o Espírito havia também sido derramado sobre os gentios" (At 10.44-45).49
Não entendemos que as experiências narradas em Atos, onde houve um intervalo entre conversão e batismo com o Espírito, sejam a norma para as demais etapas da Igreja de Cristo, após o período de transição ter-se completado, e nem que a terminologia "batismo com o Espírito" deva ser usada para experiências posteriores à conversão. Se tivéssemos de tomar algum evento como normativo, tomaríamos a experiência dos três mil no dia de Pentecostes, que num mesmo evento se converteram, receberam o Espírito, e foram batizados com aquele mesmo Espírito (cf. At 2.38).
Parece-me, concluindo, que a dificuldade com a posição de Lloyd-Jones é essencialmente uma questão de terminologia. Creio que ele está correto em sua tese fundamental. Ou seja, que a plenitude das bênçãos espirituais que recebemos em nossa conversão não esvaziam, necessariamente, a possibilidade de termos experiências espirituais profundas após a mesma, que envolvam o crente como um todo, que atinjam as suas emoções e transformem a sua vida, que o conduzam a níveis ainda mais elevados de vida cristã. A História Eclesiástica demonstra eloqüentemente a possibilidade destas experiências.
Porém, não estou convencido de que possamos usar a terminologia do "batismo com o Espírito Santo" para designá-las. Esta terminologia, na minha opinião, foi utilizada para expressar no início da Igreja os eventos únicos relacionados com as etapas da universalização do Reino, relatos esses expostos no livro de Atos. À parte do que está narrado no livro de Atos, as Escrituras não aparentam reconhecer qualquer intervalo entre a conversão e o batismo com o Espírito Santo. Assim, a expressão é corretamente empregada hoje para designar a experiência universal de todos os crentes, ao receberem a Cristo pela fé em seus corações. Ao mesmo tempo, é de se lamentar profundamente que, ao reagir contra os abusos e exageros de muitos que professam ter recebido um "batismo com o Espírito", vários estudiosos conservadores tenham adotado uma posição onde há pouco, ou nenhum, lugar para novos derramamentos do Espírito, para reavivamentos e experiências espirituais profundas e ricas com Deus.
1 Por exemplo, em 1994 um Presbitério da Igreja Presbiteriana do Brasil encaminhou uma consulta ao Supremo Concílio, onde perguntava: "O batismo com o Espírito Santo é um revestimento de poder para o serviço (como defende o teólogo D. Martyn Lloyd-Jones), ou é algo que todo cristão recebe uma única vez no momento de sua conversão (como defende o teólogo John Stott)?"
2 As citações bíblicas são da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo onde indicado diferentemente.
3 Lloyd-Jones só tratou deste assunto ao se deparar, no decorrer de suas mensagens em série sobre um livro da Bíblia, com uma passagem diretamente relacionada com o tema, como por exemplo, Ef 1.13 e Rm 8.16.
4 As diferenças entre ambos chegaram a um ponto crítico em 1966, durante o culto de abertura da Evangelical Alliance, em Londres. Lloyd-Jones era o conferencista principal, e Stott era o chairman do evento. A diferença se deu após a mensagem de abertura de Lloyd-Jones, quando Stott publicamente repudiou a sua sugestão de se formar uma nova união de evangélicos. Veja os detalhes em Iain Murray, David Martyn Lloyd-Jones: The Fight of Faith 1939-1981 (Edinburgo: Banner of Truth, 1990) 522-7.
5 D. Martyn Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose: An Exposition of Ephesians 1.1 to 23 (Grand Rapids: Baker Book House, 1978; reimpressão, 1979).
6 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 243-300.
7 D. Martyn Lloyd-Jones, Romans: An Exposition of Chapter 8.5-17: The Sons of God (Grand Rapids: Zondervan, 1974; oitava reimpressão, 1982).
8 Lloyd-Jones, The Sons of God, 285-399.
9 D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable: Power & Renewal in the Holy Spirit ( Illinois: Harold Shaw Publishers, 1984) 13.
10 Os demais sermões da série foram publicados no livro Prove All Things (Londres: Kingsway, 1985), onde Lloyd-Jones apresenta os critérios bíblicos através dos quais podemos avaliar as manifestações espirituais quanto à sua autenticidade. No Brasil, Joy Unspeakable tem recebido muito mais ênfase, enquanto que Prove All Things, que é o seu complemento indispensável, é praticamente desconhecido.
11 Para uma exposição e análise do ensino de Lloyd-Jones sobre o batismo com o Espírito Santo, ver Michael A. Eaton, Baptism with the Spirit: The Teaching of Dr. Martyn Lloyd-Jones (London: Intervarsity Press, 1989). Também, Murray, Lloyd-Jones, 483-92.
12 Ver, por exemplo, Prove All Things, 47-49; 57-59; 85, 95-97; etc. Também, ver Joy Unspeakable, 18.
13 Murray, Lloyd-Jones, 486.
14 Estas idéias haviam sido defendidas particularmente por Stott em seu livro Baptism and Fullness of the Spirit (ver adiante nota 50). Lloyd-Jones havia lido e anotado esta obra, antes de pregar a séries de mensagens que deram origem ao livro Joy Unspeakable.
15 Emprego esse neologismo "experienciável" na tentativa de melhor expressar o sentido da palavra inglesa "experimental".
16 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 248-49, 283.
17 Ibid., 275-8. Veja também, Lloyd-Jones, The Sons of God, 315-323
18 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 248-50, 267-8.
19 Ibid., 261-3.
20 Ibid., 294-5.
21 Ibid., 246-7; ver ainda p. 265.
22 Ibid., 249, 264, 274.
23 Lloyd-Jones, The Sons of God, 296-300.
24 Ibid., 310.
25 Cf. Lc 12.50.
26 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 267-68. Ver ainda The Sons of God, 314; Joy Unspeakable, 173-9.
27 Lloyd-Jones, Joy Unspeakable, 174-6.
28 Lloyd-Jones, The Sons of God, 314-5; Joy Unspeakable, 177
29 Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, 280-2.
30 Mas, mesmo assim, Lloyd-Jones deixa claro que o intervalo de tempo entre as duas coisas pode ser extremamente curto, cf. Ibid., 253-4.
31 Estes eventos se encontram narrados em Murray, Lloyd-Jones, 485. Embora essa biografia seja sobre Lloyd-Jones, Murray narra em detalhes fatos relacionados com as principais figuras evangélicas da Inglaterra envolvidas com o seu ministério.
32 John R. W. Stott, The Baptism and Fullness of the Holy Spirit (Illinois: Intervarsity Press, 1964).
33 John R. W. Stott, Baptism & Fullness: The Work of the Holy Spirit Today (Illinois: Intervarsity Press, 1975).
34 Ver Stott, Baptism & Fullness, 9.
35 John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo, trad. Hans U. Fuchs (São Paulo: Vida Nova, 1966; 2ª edição, 1986). As referências serão feitas à obra original em Inglês, em sua 2ª edição.
36 Stott, Baptism & Fullness, 36-38.
37 Ibid., 37.
38 Ibid., 38.
39 Ibid., 38-40.
40 John Stott, A Mensagem de Atos, em A Bíblia Fala Hoje, eds. J. A. Motyer e J. R. W. Stott (São Paulo: ABU, 1994) 172.
41 Stott, Baptism & Fullness, 40.
42 Ibid.
43 Ibid., 40-42.
44 Ibid., 42-43.
45 Ibid., 43.
46 É interessante observar, porém, que a preposição ei)j ligada ao verbo bapti/zw nem sempre indica o propósito do batismo. Em Mc. 1.9 indica o elemento do batismo, ou seja, o rio Jordão. Às vezes, indica referência ou relação, como por exemplo, onde o nome ou a pessoa de Jesus é mencionada, cf. Mt. 28.19; At 8.16; 19.5; Rm. 6.3. E mesmo pode indicar o tipo de batismo, ver At 19.3 ou a causa do batismo, Mt. 3.11. Em1 Co 12.13 indica o alvo do batismo, que é incorporar o crente no corpo de Cristo.
47 Entre as traduções modernas em Inglês que adotam "por" estão: KJV, NKJV, AV, RSV, NEB, NIV, NAS, TEV, GNB, NCV, Phillips, Mofatt, etc. Em Português, quase que a maioria das traduções prefere "em". Os comentários estão divididos. Alguns preferem "por" (Calvino, Clark, Hodge, Kistemaker, Chafin, MacArthur, Bengel, Alford); outros, "em" ou "com" (Morris, Findlay, Lenski, Goud, Grosheide, Robertson & Plummer).
48 Cf. Stott, Atos, 172.
49 John MacArthur, 1 Corinthians, em The MacArthur New Testament Commentary (Chicago: Moody Press, 1984) 313.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Pastores protestantes passam para a Igreja Católica
Pastores protestantes passam para a Igreja Católica
Um fenômeno muito interessante tem acontecido nos Estados Unidos; uma grande quantidade de pastores protestantes têm se convertido ao catolicismo depois de perceberem que a Igreja Católica é a Verdadeira Igreja de Jesus Cristo, fundada sobre Pedro e os Apóstolos. Isto é fruto do estudo profundo da doutrina católica, especialmente dos Padres da Igreja. Em sua coluna semanal, publicada no jornal da paróquia “Ascension Catholic Church” (Melbourne-FL) no dia 13.08.06, o padre Tobin abordou o tema com o artigo: "Leigos católicos deixando a Igreja, ministros protestantes se juntando à Igreja. O que está acontecendo?"
Ex-pastores estão tendo muita influência nessa conversão de outros ao catolicismo. Há muitos livros, dvd´s e cd´s de testemunhos e palestras desses convertidos; o "Surprised by Truth" – “Surpreso pela Verdade”, com mais de 300.000 cópias vendidas, trás histórias das conversões de 11 ex-ministros protestantes, escritas por eles mesmos; além de programas em tvs e rádios católicas. Alguns dos convertidos à Igreja Católica são:
- Dr. Scott Hahn ex-pastor presbiteriano, hoje é professor na Franciscan University of Steubenville – Ohio. Tornou-se um dos maiores pregadores católicos dos EUA. Ele foi um ferrenho aliciador de jovens católicos para o protestantismo, tendo distribuído inúmeras cópias do livro Roman Catholicism, de Loraine Boettner , conhecido como a bíblia do anti-catolicismo, mais de 450 páginas contendo todo o tipo de distorções e mentiras sobre a Igreja Católica. O cd do seu testemunho de conversão atingiu o maior número de cópias distribuídas em todos os tempos. O seu testemunho pode ser acessado pelo site www.chnetwork.org/scotthconv.htm.
- Marcus Grodi – ex-pastor presbiteriano, tem um programa às segundas-feiras, às 20h, na televisão EWTN (católica) com uma ótima audiência, no qual sempre entrevista um ex-protestante convertido. Muitos ligam durante o programa para perguntar algo e terminam dizendo que já estão se convertendo.
É importante dizer que eles cresceram e receberam formação no meio protestante, odiando mesmo a Igreja Católica, num ambiente onde ela é denominada "prostituta da Babilônia" e, de repente, sentem que foram enganados nos seus ensinamentos, principalmente quando falam da fundação da Igreja (Mt 16:18-19) e na transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus (Mt 26:26-28).
O pe. Tobin considera isso um fenômeno interessante porque: “nos últimos 20 anos enquanto alguns membros católicos se vão, um número crescente de ex-ministros liderados pelo Espírito Santo, se convertem ao catolicismo. Também um grande número de leigos protestantes está se juntando a nós”. Isso é fantástico, porque: “Quase todos os ministros protestantes, agora católicos, cresceram numa atmosfera anti-católica; foram muito bem educados nas crenças de suas religiões; juntando-se à Igreja Católica, significava perderem os seus trabalhos, as suas regalias; muitos deixaram comunidades de fé vibrante para se juntarem a uma paróquia que poderia não ser muito viva espiritualmente; agora, perguntemo-nos: por que, então, esses ministros vieram para a nossa Igreja? Porque eles sentiram insipiência na sua doutrina. Nos seus testemunhos, percebemos que coisas pequenas é que começaram a suscitar dúvidas em seus corações. E nos seus questionamentos, como não obtinham resposta lá, procuravam-na no catolicismo e assim adentravam nas raízes do cristianismo, só encontradas na Igreja Católica, a Igreja fundada por Jesus Cristo”.
O padre Tobin diz ainda que “esse processo de conversão não era breve e fácil. Levava muito tempo, anos, de estudos profundos e comparações entre as doutrinas (a nossa igreja não ensina isso assim e aí, percebiam a verdade). Também significava uma mudança radical nas suas vidas.”
Essa conversão de muitos pastores ao catolicismo mostra o quanto a doutrina é importante para a fé; nós católicos temos a obrigação de conhecer a fundo a nossa doutrina. “Hoje esses ex-pastores falam da nossa fé com orgulho, com conhecimento profundo, buscando inspiração e citações nos nossos santos que desprezavam”, disse o padre Tobin.
A revista norte-americana “Sursum Corda! Special edition 1996”, há dez anos também trouxe uma notícia de que nos últimos dez anos cinqüenta pastores protestantes se converteram ao Catolicismo, sendo que outros mais estão a caminho da Igreja Católica. Cita vários casos, e mostra os motivos que levaram tais cristãos à conversão. As três razões mais freqüentemente apontadas são as seguintes: 1) subjetivismo que reina nas denominações protestantes em conseqüência do princípio do “livre exame da Bíblia”, cada cristão é tido como apto a interpretar a Palavra de Deus segundo lhe pareça; 2) o retorno à literatura Patrística ou dos oito primeiros séculos da Igreja, evidenciando o modo de entender a fé professado pelos antigos cristãos; 3) a definição do cânon da Bíblia, que não é deduzida da própria Bíblia, mas sim da Tradição oral, que é anterior à Bíblia e a identifica ou abona, indicando o respectivo catálogo. O artigo é de autoria de Elizabeth Althau, tem por título “Protestant Pastors on the Road to Rome” (pp. 2-13).
Prof. Felipe Aquino
Um fenômeno muito interessante tem acontecido nos Estados Unidos; uma grande quantidade de pastores protestantes têm se convertido ao catolicismo depois de perceberem que a Igreja Católica é a Verdadeira Igreja de Jesus Cristo, fundada sobre Pedro e os Apóstolos. Isto é fruto do estudo profundo da doutrina católica, especialmente dos Padres da Igreja. Em sua coluna semanal, publicada no jornal da paróquia “Ascension Catholic Church” (Melbourne-FL) no dia 13.08.06, o padre Tobin abordou o tema com o artigo: "Leigos católicos deixando a Igreja, ministros protestantes se juntando à Igreja. O que está acontecendo?"
Ex-pastores estão tendo muita influência nessa conversão de outros ao catolicismo. Há muitos livros, dvd´s e cd´s de testemunhos e palestras desses convertidos; o "Surprised by Truth" – “Surpreso pela Verdade”, com mais de 300.000 cópias vendidas, trás histórias das conversões de 11 ex-ministros protestantes, escritas por eles mesmos; além de programas em tvs e rádios católicas. Alguns dos convertidos à Igreja Católica são:
- Dr. Scott Hahn ex-pastor presbiteriano, hoje é professor na Franciscan University of Steubenville – Ohio. Tornou-se um dos maiores pregadores católicos dos EUA. Ele foi um ferrenho aliciador de jovens católicos para o protestantismo, tendo distribuído inúmeras cópias do livro Roman Catholicism, de Loraine Boettner , conhecido como a bíblia do anti-catolicismo, mais de 450 páginas contendo todo o tipo de distorções e mentiras sobre a Igreja Católica. O cd do seu testemunho de conversão atingiu o maior número de cópias distribuídas em todos os tempos. O seu testemunho pode ser acessado pelo site www.chnetwork.org/scotthconv.htm.
- Marcus Grodi – ex-pastor presbiteriano, tem um programa às segundas-feiras, às 20h, na televisão EWTN (católica) com uma ótima audiência, no qual sempre entrevista um ex-protestante convertido. Muitos ligam durante o programa para perguntar algo e terminam dizendo que já estão se convertendo.
É importante dizer que eles cresceram e receberam formação no meio protestante, odiando mesmo a Igreja Católica, num ambiente onde ela é denominada "prostituta da Babilônia" e, de repente, sentem que foram enganados nos seus ensinamentos, principalmente quando falam da fundação da Igreja (Mt 16:18-19) e na transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus (Mt 26:26-28).
O pe. Tobin considera isso um fenômeno interessante porque: “nos últimos 20 anos enquanto alguns membros católicos se vão, um número crescente de ex-ministros liderados pelo Espírito Santo, se convertem ao catolicismo. Também um grande número de leigos protestantes está se juntando a nós”. Isso é fantástico, porque: “Quase todos os ministros protestantes, agora católicos, cresceram numa atmosfera anti-católica; foram muito bem educados nas crenças de suas religiões; juntando-se à Igreja Católica, significava perderem os seus trabalhos, as suas regalias; muitos deixaram comunidades de fé vibrante para se juntarem a uma paróquia que poderia não ser muito viva espiritualmente; agora, perguntemo-nos: por que, então, esses ministros vieram para a nossa Igreja? Porque eles sentiram insipiência na sua doutrina. Nos seus testemunhos, percebemos que coisas pequenas é que começaram a suscitar dúvidas em seus corações. E nos seus questionamentos, como não obtinham resposta lá, procuravam-na no catolicismo e assim adentravam nas raízes do cristianismo, só encontradas na Igreja Católica, a Igreja fundada por Jesus Cristo”.
O padre Tobin diz ainda que “esse processo de conversão não era breve e fácil. Levava muito tempo, anos, de estudos profundos e comparações entre as doutrinas (a nossa igreja não ensina isso assim e aí, percebiam a verdade). Também significava uma mudança radical nas suas vidas.”
Essa conversão de muitos pastores ao catolicismo mostra o quanto a doutrina é importante para a fé; nós católicos temos a obrigação de conhecer a fundo a nossa doutrina. “Hoje esses ex-pastores falam da nossa fé com orgulho, com conhecimento profundo, buscando inspiração e citações nos nossos santos que desprezavam”, disse o padre Tobin.
A revista norte-americana “Sursum Corda! Special edition 1996”, há dez anos também trouxe uma notícia de que nos últimos dez anos cinqüenta pastores protestantes se converteram ao Catolicismo, sendo que outros mais estão a caminho da Igreja Católica. Cita vários casos, e mostra os motivos que levaram tais cristãos à conversão. As três razões mais freqüentemente apontadas são as seguintes: 1) subjetivismo que reina nas denominações protestantes em conseqüência do princípio do “livre exame da Bíblia”, cada cristão é tido como apto a interpretar a Palavra de Deus segundo lhe pareça; 2) o retorno à literatura Patrística ou dos oito primeiros séculos da Igreja, evidenciando o modo de entender a fé professado pelos antigos cristãos; 3) a definição do cânon da Bíblia, que não é deduzida da própria Bíblia, mas sim da Tradição oral, que é anterior à Bíblia e a identifica ou abona, indicando o respectivo catálogo. O artigo é de autoria de Elizabeth Althau, tem por título “Protestant Pastors on the Road to Rome” (pp. 2-13).
Prof. Felipe Aquino
domingo, 2 de agosto de 2009
A esperança segundo a Bíblia
29/6/2009
Russell Shedd
A esperança segundo a Bíblia
A Bíblia inspira esperança. De Gênesis a Apocalipse, há uma corrente animadora de antecipação. A catástrofe no Jardim de Éden provocou a ira de Deus contra os culpados e contra a terra que os sustentaria, mas não falta a nota cristalina de esperança. O Proto-evangelho (Gn 3.15) anuncia a boa-nova de um futuro bem melhor, Deus não abandonou o pecador à sua miséria.
Noé construiu a arca porque Deus inculcou esperança no seu coração. A raça não foi aniquilada porque Deus revelou uma visão de um futuro melhor. O chamado de Abraão para deixar sua terra e parentela foi alicerçada em esperança. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Quatrocentos anos de escravatura no Egito não conseguiram apagar totalmente essa chama de esperança. Deus confirmou com braço forte a sua promessa de liberdade e independência sob o comando do soberano Senhor.
Os profetas foram enviados com mensagens de juízo e de condenação. Mas em meio a lutas, invasões, apostasia e adultério espirituais, os porta-vozes de Deus não deixaram de descrever quadros de vitória e salvação nos horizontes futuros. Duzentos anos antes do Exílio, Isaías escreveu assim: “Consolai, consolai, o meu povo, diz o vosso Deus...a glória do Senhor se manifestará e toda a carne a verá... Eis que o Senhor Deus virá com poder e o Seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa” (40.1-10). Não era para Israel cair no poço fundo da depressão e desespero, porque Deus promete voltar a mostrar os seus cuidados amorosos e especiais.
Esperança na Bíblia é assim. Em situações de terríveis aflições e sofrimentos provocados pela rebeldia e pecado do povo, Deus promete uma mudança radical que alegraria o coração mais desesperado. Assim, o pessimismo se anula nas promessas de bênçãos de Deus quando a disciplina alcança o seu efeito desejado.
Paulo vai ainda mais longe. Declara que a fé e o amor dos colossenses existiu “por causa da esperança que vos está preservada no céus”(1.5). No Antigo Testamento, há esperança na restauração do Povo Eleito. No Novo Testamento, crer na promessa de Deus da provisão de vida eterna na gloriosa presença de Deus produz fé no Senhor Jesus e amor fraternal. “Na esperança (ou ‘pela’), fomos salvos” (Rm 8.24), sugere que a fé é gerada pela esperança nas promessas de Deus.
Vejamos alguns sentidos distintos da palavra Esperança.
Devemos notar dois sentidos nesse vocábulo.
Há aquele que comunicamos quando dizemos: “Espero que este remédio me faça bem”, ou “Espero que Roberto volte para casa antes de meia-noite”. Quer dizer, temos certa confiança que possivelmente um evento há de se concretizar. Desejamos que aconteça, mas carecemos de certeza.
Contudo, a esperança “viva” (1Pe 1.3) não é assim. Ela comunica a mais completa segurança, uma vez que é acompanhada pela garantia de Deus. Aguardamos a “bendita esperança” da vinda de Cristo, não com dúvidas, mas com inteira certeza. Se mantivermos firme a esperança que desde o princípio ganhamos, não deve haver dúvidas acerca da conversão genuína (Hb 3.14). A insegurança surgirá justamente no momento em que essa confiança for abalada. Quando diminui a certeza sobre o futuro que as Escrituras denominam de “vida eterna”, apaga-se a luz da esperança.
Se já fomos justificados mediante a fé e também experimentamos a paz com Deus, entramos diretamente na porta aberta pela fé para nos firmarmos na graça. Tudo isso, Paulo assevera, nos proporciona exultar na esperança da glória vindoura (Rm 5.1,2). Significa que a segurança e paz que a graça de Deus produz por meio do perdão total e contínuo de Deus (justificação) também mantém a alegria que antecipa a manifestação futura da glória de Deus.
Nem mesmo a tribulação que Deus nos manda, para produzir a perseverança e desenvolver o caráter de Cristo (“experiência”), deve abalar a esperança cristã. Pelo contrário, aqueles que, como Paulo, mais aflição passam, são os que mais esperança possuem (Rm 5.3,4). O desespero e pessimismo se afastam diante do brilho celeste do futuro prometido por Deus. Essa esperança, garante Paulo, não confunde, porque está unida ao amor que o Espírito Santo derrama nos corações daqueles que põem sua confiança plenamente na fidelidade de Deus (Rm 5:5).
Concluindo, a esperança bíblica precisa de raízes bem firmes nas promessas de Deus. A graça que o Senhor despejou sobre nós pecadores, pagando o altíssimo preço da nossa culpa é a graça que nos segura que temos plenos direitos de ocupar nosso lugar na casa do Pai (Jo 14:1).
Russell Shedd
A esperança segundo a Bíblia
A Bíblia inspira esperança. De Gênesis a Apocalipse, há uma corrente animadora de antecipação. A catástrofe no Jardim de Éden provocou a ira de Deus contra os culpados e contra a terra que os sustentaria, mas não falta a nota cristalina de esperança. O Proto-evangelho (Gn 3.15) anuncia a boa-nova de um futuro bem melhor, Deus não abandonou o pecador à sua miséria.
Noé construiu a arca porque Deus inculcou esperança no seu coração. A raça não foi aniquilada porque Deus revelou uma visão de um futuro melhor. O chamado de Abraão para deixar sua terra e parentela foi alicerçada em esperança. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Quatrocentos anos de escravatura no Egito não conseguiram apagar totalmente essa chama de esperança. Deus confirmou com braço forte a sua promessa de liberdade e independência sob o comando do soberano Senhor.
Os profetas foram enviados com mensagens de juízo e de condenação. Mas em meio a lutas, invasões, apostasia e adultério espirituais, os porta-vozes de Deus não deixaram de descrever quadros de vitória e salvação nos horizontes futuros. Duzentos anos antes do Exílio, Isaías escreveu assim: “Consolai, consolai, o meu povo, diz o vosso Deus...a glória do Senhor se manifestará e toda a carne a verá... Eis que o Senhor Deus virá com poder e o Seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa” (40.1-10). Não era para Israel cair no poço fundo da depressão e desespero, porque Deus promete voltar a mostrar os seus cuidados amorosos e especiais.
Esperança na Bíblia é assim. Em situações de terríveis aflições e sofrimentos provocados pela rebeldia e pecado do povo, Deus promete uma mudança radical que alegraria o coração mais desesperado. Assim, o pessimismo se anula nas promessas de bênçãos de Deus quando a disciplina alcança o seu efeito desejado.
Paulo vai ainda mais longe. Declara que a fé e o amor dos colossenses existiu “por causa da esperança que vos está preservada no céus”(1.5). No Antigo Testamento, há esperança na restauração do Povo Eleito. No Novo Testamento, crer na promessa de Deus da provisão de vida eterna na gloriosa presença de Deus produz fé no Senhor Jesus e amor fraternal. “Na esperança (ou ‘pela’), fomos salvos” (Rm 8.24), sugere que a fé é gerada pela esperança nas promessas de Deus.
Vejamos alguns sentidos distintos da palavra Esperança.
Devemos notar dois sentidos nesse vocábulo.
Há aquele que comunicamos quando dizemos: “Espero que este remédio me faça bem”, ou “Espero que Roberto volte para casa antes de meia-noite”. Quer dizer, temos certa confiança que possivelmente um evento há de se concretizar. Desejamos que aconteça, mas carecemos de certeza.
Contudo, a esperança “viva” (1Pe 1.3) não é assim. Ela comunica a mais completa segurança, uma vez que é acompanhada pela garantia de Deus. Aguardamos a “bendita esperança” da vinda de Cristo, não com dúvidas, mas com inteira certeza. Se mantivermos firme a esperança que desde o princípio ganhamos, não deve haver dúvidas acerca da conversão genuína (Hb 3.14). A insegurança surgirá justamente no momento em que essa confiança for abalada. Quando diminui a certeza sobre o futuro que as Escrituras denominam de “vida eterna”, apaga-se a luz da esperança.
Se já fomos justificados mediante a fé e também experimentamos a paz com Deus, entramos diretamente na porta aberta pela fé para nos firmarmos na graça. Tudo isso, Paulo assevera, nos proporciona exultar na esperança da glória vindoura (Rm 5.1,2). Significa que a segurança e paz que a graça de Deus produz por meio do perdão total e contínuo de Deus (justificação) também mantém a alegria que antecipa a manifestação futura da glória de Deus.
Nem mesmo a tribulação que Deus nos manda, para produzir a perseverança e desenvolver o caráter de Cristo (“experiência”), deve abalar a esperança cristã. Pelo contrário, aqueles que, como Paulo, mais aflição passam, são os que mais esperança possuem (Rm 5.3,4). O desespero e pessimismo se afastam diante do brilho celeste do futuro prometido por Deus. Essa esperança, garante Paulo, não confunde, porque está unida ao amor que o Espírito Santo derrama nos corações daqueles que põem sua confiança plenamente na fidelidade de Deus (Rm 5:5).
Concluindo, a esperança bíblica precisa de raízes bem firmes nas promessas de Deus. A graça que o Senhor despejou sobre nós pecadores, pagando o altíssimo preço da nossa culpa é a graça que nos segura que temos plenos direitos de ocupar nosso lugar na casa do Pai (Jo 14:1).
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