quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nenhum homem diz "Deus não existe", a não ser aquele que tem interesse em que ele não exista. Agostinho

domingo, 28 de março de 2010

A Presciência de Deus – Calvinismo x Arminianismo

O evangélico Arminiano reconhece que Deus detém a presciência, e que Ele é, portanto, capaz de prever eventos futuros. Mas se Deus conhece de antemão qualquer acontecimento futuro, então esse evento é tão fixo e certo, como se predestinado. Porque a presciência implica certeza, certamente, implica a predestinação. O evangélico Arminiano não nega que existe tal coisa como uma eleição para a salvação, pois ele não pode se livrar das palavras "eleger" e "eleição", que ocorrem cerca de vinte e cinco vezes no Novo Testamento. Mas ele tenta destruir a força destas palavras dizendo que a eleição é baseada no conhecimento prévio, isto é, que Deus olha para baixo, para a larga avenida do futuro e vê quem vai responder à sua oferta graciosa, e assim os elege.




Mas ao reconhecer a presciência, o Arminiano faz uma concessão fatal. Figurativamente falando, ele corta sua própria garganta, pela simples razão de que, como Deus prevê quem será salvo, Ele também vê os que serão perdidos! Por que, então, Ele cria os que serão perdidos? Certamente Ele não está sob nenhuma obrigação de criá-los. Não há poder fora de Si mesmo forçando-o a fazê-lo. Se Ele quer que todos os homens sejam salvos e está fervorosamente tentando salvar todos os homens, Ele poderia ao menos abster-se de criar aqueles que, se criados, certamente serão perdidos.


O Arminiano não pode consistentemente ou coerentemente manter a presciência de Deus e mesmo assim negar as doutrinas da eleição e predestinação. A pergunta persiste: por que Deus cria aqueles que Ele sabe que irão para o inferno? Seria mera loucura dele desejar salvar ou tentar salvar aqueles que Ele sabe que se perderão. Isso seria, da parte dele, trabalhar com propósitos contraditórios, ou contrários a si mesmo. Mesmo o homem tem o bom senso de não tentar fazer aquilo que não fará ou que não pode fazer. O Arminiano não tem alternativa senão a de negar a presciência de Deus - e então ele tem apenas um Deus limitado, ignorante e finito, que na realidade não é Deus em absoluto no verdadeiro sentido da palavra. Se a eleição é baseada na presciência, isso a transforma em algo tão sem sentido que se torna mais confusa do que esclarecedora. Pois mesmo no que diz respeito aos eleitos, que sentido há em Deus eleger aqueles que Ele sabe que irão eleger-se a si mesmos? Isso seria puro absurdo.


(Além disso, cria-se a idéia de um Deus trapaceiro, que se utiliza de sua prerrogativa de prever o futuro e antevê quem O escolherá e então diz que Ele o elegeu. Se na verdade a eleição foi fruto da antevisão da escolha do homem, Deus está mentindo quando diz que elegeu. Afinal, ele só anteviu a escolha do homem e se apropriou indevidamente dessa escolha e a tomou desonestamente para si, dando-lhe o nome de eleição, quando, em última analise, a escolha foi do homem – Nota do tradutor)




As passagens Universalistas

Provavelmente, a defesa mais plausível para o Arminianismo é encontrado nas passagens universalistas das Escrituras. Três das mais cotadas são: 2 Pedro 3:9, "não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento."; 1 Timóteo 2:3-4, ... Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.", e 1 Timóteo. 2:5,6, "... Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos".


Em relação a estes versículos, devemos ter em mente que, como dissemos anteriormente, Deus é o governante absoluto e soberano do céu e da terra, e nunca devemos pensar Nele como alguém que deseja ou se esforça para fazer o que ele sabe que não vai fazer. Fazer de outro modo seria, para Ele, agir estupidamente. Uma vez que a Escritura nos diz que alguns homens vão se perder, 2 Pedro 3:9 não pode significar que Deus está ardentemente desejando ou se esforçando para salvar todos os homens individualmente. Pois se fosse a Sua vontade que cada indivíduo da humanidade fosse salvo, então não poderia haver uma alma perdida. "Pois quem jamais resistiu à sua vontade?" (Romanos 9:19).


Estes versos ensinam simplesmente que Deus é benevolente, e que Ele não se deleita com o sofrimento de suas criaturas assim como um pai humano não se deleita com a punição que às vezes tem de infligir ao seu filho. A palavra "vontade" é usada em diferentes sentidos nas Escrituras assim como em nossas conversas diárias. Às vezes é usada no sentido de "desejo" ou "propósito". Um juiz justo não quer (deseja) que ninguém seja enforcado ou condenado à prisão, mas ele quer (pronuncia a sentença) que o culpado seja punido. No mesmo sentido, e por razões suficientes, um homem pode querer ter um membro removido, ou um olho retirado, embora ele certamente não deseje isso.


Os Arminianos insistem que em 2 Pedro 3:9, a expressão "nenhum" e "todos" se referem a toda a humanidade, sem exceção. Mas é importante, primeiramente, que vejamos a quem estas palavras foram dirigidas. No primeiro versículo do capítulo 1, vemos que a epístola não é dirigida a toda a humanidade, mas para os cristãos: "... aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa”. E em um versículo anterior (3:1), Pedro se dirigiu àqueles a quem estava escrevendo como "amados". E quando olhamos para o verso como um todo, e não apenas na última metade, percebemos que não é, primariamente, um versículo sobre a salvação, mas um versículo sobre a segunda vinda! Ele começa dizendo que "Não retarda o Senhor a sua promessa” [singular]. Que promessa? O versículo 4 nos diz: "a promessa da sua vinda." A referência é à Sua segunda vinda, quando Ele virá para o julgamento, e os ímpios perecerão no lago de fogo. O versículo faz referência a um grupo limitado. Ele diz que o Senhor é "longânimo para conosco," Seus eleitos, muitos dos quais ainda não tinham sido regenerados, e que, portanto, não tinham ainda chegado ao arrependimento. Daí podemos muito bem ler o versículo 9 do seguinte modo: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco), não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.”


Em relação a 1 Timóteo 2:4,6 “o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade ... o qual a si mesmo se deu em resgate por todos”, “todos” é usado em vários sentidos. Muitas vezes isso não significa todos os homens sem exceção, mas todos os homens sem distinção - judeus e gentios, servos e livres, homens e mulheres, ricos e pobres. E em 1 Timóteo. 2:4-6 é claramente usado nesse sentido. Através de muitos séculos, os judeus tinham sido, com poucas exceções, os destinatários exclusivos da graça salvadora de Deus. Eles haviam se tornado as pessoas mais intensamente nacionalistas e intolerantes no mundo. Ao invés de reconhecerem a sua posição como de representantes de Deus para todos os povos do mundo, eles tomaram essas bênçãos para si mesmos. Mesmo os primeiros cristãos, por um tempo, estiveram inclinados a se apropriarem da missão do Messias apenas para si mesmos. A salvação dos gentios era um mistério que não havia sido conhecido em outras épocas (Efésios. 4:6; Colossenses 1:27). Tão rígido foi o exclusivismo farisaico que os gentios eram chamados imundos, comuns, pecadores dentre os gentios, e mesmo cães; e não era lícito a um judeu manter-se em companhia de ou possui qualquer negócio com os gentios (João 4:9, Atos 10:28, 11:3). Depois que um judeu ortodoxo mantivesse contato com gentios na praça do mercado, era considerado impuro (Marcos 7:4). Depois que Pedro pregou para Cornélio, o centurião romano, e os outros que estavam reunidos na casa dele, foi severamente repreendido pela Igreja em Jerusalém, e quase podemos ouvir o suspiro de espanto quando, depois de Pedro lhes dizer o que tinha acontecido, eles disseram: "Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (Atos 11:18), isto é, não a cada indivíduo no mundo, mas para os judeus e gentios. Utilizada neste sentido, a palavra "todos" não tem referência para os indivíduos, mas simplesmente para a humanidade em geral.


Quando foi dito de João Batista que "Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados" (Marcos 1:5), sabemos que nem todos os indivíduos reagiram dessa maneira. Lemos que, depois de Pedro e João curarem o coxo à porta do templo, "todos glorificavam a Deus pelo que acontecera" (Atos 4:21). Jesus disse aos seus discípulos que “todos odiarão vocês por serem meus seguidores” (Lucas 21:17). E quando Jesus disse: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (João 12:32), Ele certamente não queria dizer que cada indivíduo da humanidade seria atraído dessa maneira. O que ele queria dizer era que judeus e gentios, homens de todas as nações e raças, seriam atraídos para Ele. E isso é o que vemos que realmente está acontecendo.


Em 1 Coríntios 15:22, lemos: "Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo". Este versículo é freqüentemente citado por Arminianos para provar a expiação ilimitada ou universal. Este verso é do famoso capítulo de Paulo sobre a ressurreição, e o contexto deixa claro que ele não está falando sobre a vida nesta era, seja ela física ou espiritual, mas sobre a vida a partir da ressurreição. Cristo é o primeiro a entrar na vida ressurreta, então, quando Ele vier, o Seu povo também entrará na sua vida de ressurreição. E o que Paulo diz é que, naquele momento, uma gloriosa vida ressurreta será uma realidade, e não para toda a humanidade, mas para todos aqueles que estão em Cristo. E esse ponto é ilustrado pelo tão conhecido fato de que a raça humana caiu em Adão, que atuou como seu cabeça federal e representante. O que Paulo realmente diz é que: "Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”. O versículo 22, portanto, não se refere a algo passado, nem a algo presente, mas a algo no futuro, e não tem qualquer relevância especial sobre a controvérsia Arminiano-Calvinista.


Dois outros versos, que também são freqüentemente citados em defesa do Arminianismo são "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20) e "... Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (Apocalipse 22:17). Este convite geral é estendido a todos os homens. Isto pode ser, e muitas vezes é, o meio que o Espírito Santo usa para despertar em certas pessoas o desejo de salvação quando Ele coloca em execução o Seu poder sobrenatural para regenerá-los. Mas estes versos, tomados por si só, não levam em consideração a verdade que já foi salientada neste artigo, de que o homem caído está morto espiritualmente, e que, como tal, ele é totalmente incapaz de responder ao convite, assim como são os anjos caídos ou demônios. O homem caído está tão morto espiritualmente quanto Lázaro estava morto fisicamente até que Jesus exclamou em alta voz: "Lázaro, vem para fora", e o fariseu Nicodemos: "se alguém não nascer de novo [ou do alto], não pode ver o reino de Deus "(João 3:3). E novamente, Ele disse aos fariseus: "Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra” (João 8:43). À parte dessa assistência divina, ninguém pode ouvir o convite ou ativar a vontade de vir a Cristo.


A declaração de que Cristo morreu por "todos" fica mais clara na canção que os redimidos cantam diante do trono do Cordeiro: "porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação "(Ap 5:9). Muitas vezes a palavra "todos" deve ser entendida como todos os eleitos, toda a Sua Igreja, todos aqueles a quem o Pai deu ao Filho, como quando Cristo diz: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim” (João 6:37), mas não todos os homens universalmente e cada homem individualmente. A multidão de redimidos será composta de homens de todas as classes e condições de vida, de príncipes e camponeses, de ricos e pobres, escravos e livres, homens e mulheres, judeus e gentios, homens de todas as nações e raças. Esse é o verdadeiro universalismo da Escritura.

sábado, 27 de março de 2010

Estamos desesperados por Deus?

Estamos desesperados por Deus?
Ensinamentos: Aprendendo com a corça


Uma corça sedenta e exausta caminha pelo deserto. Logo, o animal avista a imagem de um lençol d’água sobre a areia. Começa a correr desesperada ao encontro da única substância que pode matar sua sede. A corça é um animal de pequena estatura, arisco e de costume migratório. E uma característica interessante: a corça não suporta o confinamento. É um animal dotado de olfato privilegiado que lhe possibilita sentir cheiro de água a quilômetros de distância. É capaz ainda de perceber, metros abaixo da superfície, a existência de um lençol de água. Em regiões desérticas da África e do Oriente Médio, empresas construíram quilômetros de aquedutos sob a superfície terrestre.

E as corças sedentas, ao pressentirem a água jorrando pelo interior dos dutos, correm por cima das tubulações na tentativa de encontrarem a nascente, ou então um possível local por onde essas águas pudessem ser alcançadas. Certo poeta descreveu essa cena da corça farejando água, sob a areia do deserto, do seguinte modo: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, ... “ (Salmos 42:1-2). Note que nesta passagem, Davi faz uma comparação. A sede dele pelo Senhor era comparada ao anseio de uma corça pelas águas. Em se tratando de um homem “segundo o coração o de Deus”, creio que esta comparação pode servir de parâmetro para nossa própria busca. Mas enfim, como é que a corça suspira e anseia pelas águas? É com desespero. Gritando, correndo, buscando, farejando. Com sede. Com olfato privilegiado para localizar a fonte certa.

Continuamente, todos os dias. Não se permitindo acomodar e fugindo do confinamento. E nós? Estamos desesperados por Deus? Temos sede de sua presença? Temos corrido, buscado e nos desesperado por mais dEle em nossas vidas? Temos buscado na fonte certa, diariamente? Ou temos nos contentado com a mediocridade do nosso "confinamento"? Cada um de nós pode ter seu próprio “confinamento”. Coisas que nos prendem e nos impedem de sair em busca da água fresca que tanto precisamos. Podem ser pessoas, situações ou até mesmo “pequenos reinos” que construímos para nós mesmos (“meu emprego”, “meu ministério”, “meu evento”, etc). Precisamos, como a corça, sair e correr. Precisamos de olfato aguçado para ir na fonte certa, que é Cristo. Afinal de contas, existem fontes sem água (II Pedro 2:17), e nuvens sem água (Judas 1:12). E lembremos das palavras do Mestre: “quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida." (Apocalipse 22:17). Que o Senhor Deus tenha misericórdia de nós e nos guie.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Uma Espiritualidade Extramundana - J. I. Packer

O cristianismo hoje incorpora e reflete a maneira de olhar a vida do mundo, a qual pelos padrões bíblicos é mundana e excêntrica.

O prazer, concebido e buscado em termos dos bens e confortos deste mundo, é o foco central da religião da banheira quente. E revelador ver como o prazer tem sido visto em diferentes épocas da história do Cristianismo e fazer comparações entre as óticas anteriores e esta síndrome em particular. Já que o Cristianismo tanto afirma o mundo como a criação de Deus e o renuncia como corrompido pelo pecado, esperaríamos ver algumas ocasiões históricas de oscilação entre ver o prazer como bem e como mal, e isso acontece realmente. O mundo greco-romano do primeiro e subseqüentes séculos estava firmemente nas garras de uma mentalidade decadente, de busca do prazer. Logo não se admira que o Novo Testamento e os escritos dos primeiros pais gastassem mais tempo atacando prazeres pecaminosos do que celebrando prazeres piedosos, nem que essa visão fosse levada até a Idade Média, na qual o tipo monástico de renúncia ascética do mundo foi julgada a mais alta forma do Cristianismo. Mas então, por insistirem os reformadores e os puritanos na santidade da vida secular, a teologia bíblica do prazer finalmente veio à tona, e a maioria da cristandade já chegou a reconhecê-la.

Calvino expressou essa teologia com brilho e sabedoria singular. Num capítulo de suas Institutos, intitulado "Como devemos usar esta vida presente e seus auxílios", ele avisa contra os extremos, tanto da austeridade exagerada como da indulgência excessiva. Ele afirma (contra Agostinho!) que não usar para o prazer as realidades criadas que oferecem prazer é ser ingrato para com seu Criador. Ao mesmo tempo, entretanto, ele reforça a admoestação de Paulo para não se apegar às fontes do prazer (1 Co 7.29-31), visto que um dia poderemos perdê-las, e recomenda moderação — que é na prática aplicar o freio até certo ponto — ao utilizarmos os prazeres, para que nosso coração não se torne escravo deles a ponto de não podermos passar alegremente sem eles. É até irônico que Calvino, supostamente a encarnação da austeridade deprimida, fosse realmente um teólogo clássico do prazer. Não é menos irônico que os puritanos, supostamente os desmancha-prazeres profissionais (H.L. Mencken definiu o puritanismo como sendo o temor obsedante de que em algum lugar, de alguma forma, alguém pudesse sentir-se feliz), acabassem sendo aqueles que mais insistissem que "a religião nunca foi planejada para minorar os nossos prazeres". Mas o fato é esse.

Contudo, nem todos os evangélicos seguiram Calvino e os puritanos em sua integração do prazer na piedade. O avivalismo cultivou uma ênfase em espiritualidade "extramundana" tanto estreita como negativa.

As pressões seculares provaram ser fortes demais. O materialismo intimidou os cristãos aponto de se esquecerem do céu e procederem na base de que a única vida em que se deve pensar e da qual precisamos desfrutar o prazer é a vida terreal. O freudismo capturou as imaginações cristãs não menos que as pós-cristãs com seu retrato do indivíduo humano impulsionado por desejos desesperados de prazer, especialmente prazer sexual, e sujeito a ficar descosturado ou descomposto se esses apetites não forem saciados. O humanismo promoveu a auto-expressão, a auto-realização como o supremo alvo da vida. Os cristãos têm assimilado esse pensamento e até afirmado que essa é mesmo a vontade de Deus também. Hollywood e a TV têm projetado uma visão de vida de conto de fada, na qual o prazer é o pote de ouro que sempre se encontra no fim do arco-íris, contanto que seu comportamento prévio não tenha sido completamente escandaloso. Dessa mistura tenebrosa de idéias emergiu a religião da banheira quente, preocupada com o prazer pessoal em uma ou outra forma, exigindo que a piedade seja confortante, e insistindo que tudo que abranda as tensões da vida, por isso mesmo, deve ser considerado bom e santo.

Já podemos enxergar agora o que é realmente a religião da banheira quente — o Cristianismo corrompido pela paixão pelo prazer. A religião da banheira quente é o Cristianismo tentando ganhar do materialismo, do freudismo, do humanismo e de Hollywood, no jogo que eles jogam, em vez de desafiar os erros que as regras desse jogo refletem. Resumindo, o Cristianismo caiu vítima mais uma vez (porque isso já aconteceu muitas vezes antes, de diferentes modos) ao fascínio deste mundo decaído. O mundanismo — isto é, abraçar os valores do mundo, neste caso o prazer — é a fonte de onde surge a ótica distinta da religião da banheira quente. "O lugar do navio é dentro do mar", disse D.L. Moody, falando da igreja e do mundo, "mas Deus ajude o navio se o mar entrar dentro dele". Certamente foi justo o sentimento dele.

Sintomas dessa religião de banheira quente de hoje incluem a escalada vertiginosa da taxa de divórcios e segundos casamentos entre cristãos; a prática ampla de aberrações sexuais; um sobrenaturalismo superaquecido que busca sinais, maravilhas, visões, profecias e milagres; a água-com-açúcar suavizadora constante dos pregadores eletrônicos e do púlpito liberal; o sentimentalismo antiintelectual, e os "altos" de emoção cultivados deliberadamente, que são os equivalentes cristãos da maconha e da cocaína; e uma aceitação fácil, irrefletida do luxo na vida diária. Essas tendências não são salutares. Fazem a igreja se parecer com o mundo, impulsionado pelo mesmo impensado desejo por prazer temperado com magia. Por isso minam a credibilidade do evangelho da vida nova. Se é importante reverter essas tendências, uma nova estrutura referencial terá que ser estabelecida. A esta tarefa, portanto, nos remetemos agora, seguindo para onde a Escritura nos levar.

A palavra vinda de Deus que precisamos ouvir sobre este assunto foi escrita pelo apóstolo João: "Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não proce¬de do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente" (1 Jo 2.15-17).

Essas palavras apaixonadas são cruciais no argumento da carta de João. Ele escreve a uma igreja remanescente, o cerne fiel que continuou leal ao seu evangelho quando um grande segmento dos membros saiu. Os separatistas haviam professado uma versão mais alta, mais moderna, mais intelectual do Cristianismo. João inicia sua carta aos remanescentes lembrando-os de que sua palavra vinha com a autoridade de uma testemunha ocular de Cristo (1.1-4) e que a investida de sua mensagem é, e sempre foi, a salvação do pecado pela purificação através do sangue de Jesus, para haver como caminhar em santidade com um Deus santo (1.5-10). Em seguida ele explica seu propósito pastoral em escrever para eles — guardá-los dos pecados dos dissidentes (arrogância, ódio e lassidão moral) e mantê-los no caminho da obediência a Deus e do amor uns aos outros que vinham seguindo fielmente (2.1-14) e em triunfo até então. Agora vem esse trecho rompante de três versículos no qual João resume a investida negativa desta carta. Amor do mundo, ele diz em outras palavras, é a causa original das deserções, como é de todas as outras faltas de amor a Deus encontradas entre cristãos professos; portanto, aconteça o que acontecer, não ame o mundo!

O que significa amar o mundo? João analisa esse amor em termos da paixão da carne (o desejo) que diz: "Eu quero..." e do orgulho (vangloria) que diz: "Eu tenho..." Aqui ele está falando do apetite irrequieto por aquilo que você não tem juntamente com gloriar-se vaidosamente daquilo que você tem (v.16). Concordo com a tradução NVI que diz nesse versículo conciso: "Pois tudo que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo." A paixão por possuir e o orgulho de possuir o que o mundo em volta oferece é o que quer dizer amar o mundo.

Com isso já podemos ver por que o amor do mundo exclui o amor do Pai (v. 15). O amor do mundo é egocêntrico, aquisitivo, arrogante, ambicioso e absorto, o que não deixa espaço para nenhum outro tipo de afeição. Quem ama o mundo presta serviço e culto a si mesmo a cada momento. É ocupação de tempo integral. E por aí vemos que qualquer pessoa cujas esperanças estão focalizadas em adquirir prazer, lucro e privilégio material é candidata a uma experiência de destituição, de perda, já que, como diz João (v. 17), o mundo não vai durar. A certeza maior da vida é que um dia nós deixaremos para trás o prazer mundano, o lucro e o privilégio. A única incerteza é se essas coisas nos deixarão antes do nosso dia de deixá-las. Os verdadeiros servos de Deus, entretanto, não têm de enfrentar tais perdas. Seu amor e seu desejo centram-se no Pai e no Filho em uma comunhão que já existe (cf. 1.3) e que nada jamais poderá interromper.

terça-feira, 23 de março de 2010

A Total Incapacidade do Homem – Calvinismo x Arminianismo

Ao lermos as obras de vários escritores Arminianos, nos parece que o seu primeiro e talvez o mais grave erro seja o de que eles não dão a devida importância à rebelião pecaminosa e separação espiritual da raça humana de Deus, ocorrida na queda de Adão. Alguns a negligenciam por completo, enquanto que para outros, isso parece ser um evento distante com pouca influência na vida das pessoas hoje. Mas, a menos que insistamos na realidade da separação espiritual de Deus e o efeito totalmente desastroso que esse evento exerceu sobre toda a raça humana, nunca seremos capazes de apreciar devidamente a nossa real condição ou a nossa desesperadora necessidade de um Redentor.




Talvez isso nos ajude a perceber mais claramente o que a condição do homem caído realmente é se a compararmos com a dos anjos caídos. Os anjos foram criados antes do homem, e cada anjo foi colocado em teste como um ser individual, pessoal e moral. Esse foi, aparentemente, um puro teste de obediência, como foi o de Adão. Alguns dos anjos permaneceram firmes em seu teste, por razões plenamente conhecidos somente por Deus, e, como resultado, foram confirmados em um estado de santidade angélica perfeita, e são eleitos os anjos no céu (1 Timóteo 5:21). Mas outros caíram, e agora são os demônios sobre os quais lemos nas Escrituras, sendo o diabo, ao que parece, o de mais alto posto entre aqueles que caíram.


Em Judas, lemos de "anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, Ele [DEUS] tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia" (v.6). E em 2 Pedro, lemos que "Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo" (2:4). O diabo e os demônios estão totalmente alienadas de Deus, totalmente entregues ao pecado e sem qualquer esperança de redenção. Seu destino é descrito por Cristo como aquele de ser lançado no "fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. (Mateus 25:41).


Não há redenção para os anjos caídos. O escritor da Epístola aos Hebreus diz: "Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão" (2:16). Seu destino é fixo e certo. Para os homens e para os anjos, a punição eterna é a penalidade para o infinito pecado contra Deus. Alguns tentariam fazer Deus parecer injusto, como se Ele infligisse punição infinita por pecados cometidos apenas nesta vida. Mas os homens perdidos e anjos perdidos, ou demônios, estão eternamente em rebelião contra Deus, e eles recebem punição eterna para essa rebelião.


Mas quando Deus criou o homem como um ser moral, ele deu seguimento a um plano diferente daquele realizado com a ordem angelical. Em vez de criar todos os homens de uma só vez e colocá-los em teste individualmente, Ele criou um homem, com um corpo físico, de quem toda a raça humana descenderia, e que, por sua união com todos aqueles que viriam depois dele, poderia ser apontado como o cabeça legal ou federal e representante de toda a raça humana. Se ele resistiu ao teste, ele e todos os seus descendentes, seus filhos, seria confirmado em santidade e estabelecido em um estado de criatura perpetuamente bem-aventurada como foram os santos anjos. Mas se ele caísse, como fizeram os outros anjos, ele e toda sua posteridade estaria sujeito a punição eterna. Era como se Deus dissesse: "Desta vez, se o pecado tiver que entrar, deixe que entre por um homem, de modo que a redenção também possa ser realizada por um homem."


Portanto Adão, em sua capacidade representativa, foi colocado em um teste de obediência humana pura. A pena da desobediência foi claramente colocada diante dele: "E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Gênesis 2:16-17).


Assim, a pena claramente declarada para o pecado foi a morte - exatamente a mesma pena infligida aos anjos que caíram. Tal como aconteceu com os anjos, esse foi puramente um teste para estabelecer se o homem seria ou não seria um sujeito obediente e grato no reino dos céus. Foi um teste perfeitamente justo, simples e claramente apresentado, muito em favor de Adão, para que ele não teria nenhuma desculpa caso desobedecesse.


Mas, tragédia das tragédias, Adão caiu. E toda a raça humana, representada nele, caiu. As conseqüências do pecado estão totalmente compreendidas sob o termo morte, em seu sentido mais amplo. Foi inicialmente a morte espiritual ou separação de Deus, que fora ameaçada. Adão não morreu fisicamente até 930 anos após a sua queda. Mas ele foi espiritualmente alienado de Deus e morreu espiritualmente no mesmo instante em que pecou. E a partir daquele instante, sua vida tornou-se uma marcha incessante em direção ao túmulo. O homem, nesta vida, não foi tão longe nos caminhos do pecado como foi o diabo e os demônios, pois ele ainda recebe muitas bênçãos por meio da graça comum, como saúde, riqueza, família e amigos, as belezas da natureza, e ainda é cercado por muitas influências restritivas. Mas ele está a caminho. E se não fosse controlado, o homem acabaria por tornar-se totalmente mal como são os demônios. Em seu estado caído, ele teme a Deus, tenta fugir dEle, e, literalmente, O odeia, como fazem os demônios. Se fosse entregue a si mesmo, permaneceria eternamente nessa condição, porque, como está escrito: "Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus" (Romanos 3:10-11). Nada, absolutamente nada além de um poderoso ato sobrenatural da parte de Deus pode salvá-lo dessa condição. Assim, se ele tiver que ser resgatado, Deus deve tomar a iniciativa, deve pagar a pena por ele, deve limpar-lo de sua culpa, e assim o restabelecer em santidade e justiça.


E é precisamente isso que Deus faz. Ele soberanamente escolhe um homem para fora do reino de Satanás, e o coloca no reino dos céus. Esses são os eleitos que são referidas cerca de 25 vezes nas Escrituras: Mateus 24:22: "por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados." (na destruição de Jerusalém); 1 Tessalonicenses 1:4: "reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição"; Rom. 11:7 "mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos"; Rom. 8:33: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.", e muitos mais.


A Bíblia nos diz que Deus tem salvado uma multidão da raça humana da pena de seus pecados. Para realizar esse trabalho, Cristo, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tomou sobre Si a natureza humana através do milagre do nascimento virginal, e nasceu na raça humana como qualquer criança normal nasce. Assim, Deus se encarnou, tornou-se um de nós. Jesus, então, viveu uma vida perfeita sem pecado entre os homens como representante de seu povo, colocando-se diante da Sua própria lei, e sofreu em sua própria pessoa a pena que Deus havia prescrito para o pecado. Em Sua vida sem pecado, Ele manteve perfeitamente a lei de Deus que Adão tinha quebrado, e assim ganhou justiça perfeita para o seu povo e, assim, ganhou-lhes o direito de entrar no céu. O que Ele sofreu, como uma pessoa de valor e dignidade infinita, foi exatamente o equivalente ao que o Seu povo teria sofrido na eternidade no inferno. Desta maneira Ele libertou Seu povo da lei do pecado e da morte. E como os frutos desta obra redentora são aplicados àqueles que foram dados ao Filho pelo Pai, eles são declarados regenerados pelo Espírito Santo, isto é, para serem vivificados espiritualmente, para nascerem de novo.


Paulo expressa esta ampla verdade quando na Epístola aos Romanos, diz:


"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram... porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação. Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos." (Romanos 5: 12-19).


A menos que se veja esse contraste entre o primeiro e o segundo Adão, nunca se entenderá o sistema cristão.


E escrevendo aos santos que estavam em Éfeso, Paulo disse: "Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados". E ele continua a dizer que:


"... éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2:1-10)


Na teologia cristã, existem três atos distintos e separados de imputação. Em primeiro lugar, o pecado de Adão é imputado a todos nós, seus filhos, isto é judicialmente estabelecido em nossa conta para que sejamos responsabilizados por isso e soframos as conseqüências do mesmo. Isto é comumente conhecido como a doutrina do pecado original. Em segundo lugar, e, exatamente da mesma forma, o nosso pecado é imputado a Cristo, para que Ele sofra as conseqüências do mesmo. E em terceiro lugar, a justiça de Cristo é imputada a nós e garante a nossa entrada no céu. Estamos, naturalmente, não mais culpados pessoalmente pelo pecado de Adão do que Cristo é pessoalmente culpado pelo nosso pecado, ou do que nós somos, pessoalmente meritórios por causa de Sua justiça. Em cada caso, é uma transação judicial. Nós recebemos a salvação de Cristo precisamente da mesma maneira que nós recebemos a condenação e a ruína de Adam. Em cada caso, o resultado segue por causa da estreita união oficial que existe entre as pessoas envolvidas. Rejeitar qualquer uma dessas três etapas é a rejeitar uma parte essencial do sistema cristão.


Assim, vemos o paralelo estrito entre Adão e Cristo no que se refere à salvação. Nas passagens acima, Paulo amontoa frases sobre frases salientando o fato de que não éramos apenas doentes ou relutantes espiritualmente, mas espiritualmente mortos. O próprio Cristo disse: "Se alguém não nascer de novo, ele não pode ver o reino de Deus" (João 3:3). E novamente Ele disse: "Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra." (João 8:43). O homem irregenerado não pode ver o reino de Deus, e nem pode ouvir, discernindo espiritualmente, as palavras que dizem respeito a esse reino, muito menos pode se achegar a ele. Tivéssemos sido nós deixados por nossa própria conta, assim como os anjos caídos, nunca teríamos voltado para Deus.


Uma pessoa espiritualmente morta não pode dar vida espiritual a si mesma da mesma forma que uma pessoa fisicamente morta não pode dar a si mesma a vida física. Isso exige um ato sobrenatural da parte de Deus. Nós entramos na família de Deus precisamente da mesma maneira que entramos em nossa família humana, por termos nascido nela. Por esse ato sobrenatural próprio Deus, através do Seu Espírito Santo, soberanamente nos leva para fora do reino de Satanás e nos coloca no Seu reino espiritual, um renascimento espiritual.


E, uma vez nascidos no reino de Deus, não podemos, jamais, nos tornar não-nascidos. Uma vez que foi necessário um ato sobrenatural para nos trazer a um estado de vida espiritual, seria necessário um outro ato similar para nos tirar desse estado. Daí a absoluta certeza de que aqueles que foram regenerados e que, portanto, tornaram-se verdadeiramente cristãos, jamais perderão sua salvação, mas serão providencialmente guardados pelo poder de Deus através de todas as provações e dificuldades da vida e serão conduzidos ao reino celestial. "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida." (João 5:24); "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2 Coríntios. 5:17); "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (João 10:27-29). Isso é conhecido como a doutrina da segurança eterna ou a perseverança dos santos.


Este dom da vida eterna não é conferido a todos os homens, mas apenas àqueles a quem Deus escolhe. Isso não significa que todos que querem ser salvos são excluídos, pois o convite é "Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” (Apocalipse 22:17). O fato é que uma pessoa espiritualmente morta não pode desejar vir. "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:44). Somente aqueles que são tocados (espiritualmente vivificados) pelo Espírito Santo, experimentam essa vontade ou esse desejo. Estes são chamados, nas Escrituras, os eleitos. Mas, em contraste com estes, há um outro grupo que podemos chamar de não-eleitos. E em relação aos mesmos o Professor Floyd Hamilton muito apropriadamente escreveu:


"Tudo o que Deus faz é deixá-los sozinhos e permitir que sigam seu próprio caminho, sem interferências. É a sua natureza para de serem maus, e Deus simplesmente predestinou deixar essa natureza inalterada. A imagem, muitas vezes pintada por opositores do Calvinismo, de um Deus cruel recusando-se a salvar todos os que querem ser salvos, é uma caricatura grosseira. Deus salva todos os que querem ser salvos, mas ninguém cuja natureza não tenha sido alterada quer ser salvo."

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Soberania de Deus – A Fé Reformada – Calvinismo x Arminianismo

O objetivo deste artigo é estabelecer, em linguagem simples e em termos acessíveis, as diferenças básicas entre os sistemas Calvinista e Arminiano de teologia, e mostrar o que a Bíblia ensina sobre estes assuntos. A harmonia que existe entre as várias doutrinas da fé cristã é tal que o erro em relação a qualquer uma delas produz uma maior ou menor distorção em todas as outras.


Existem, na realidade, apenas dois tipos de pensamento religioso. Existe a religião da fé, e existe a religião das obras. Acreditamos que o que é conhecido na História da Igreja como Calvinismo é a mais pura e consistente personificação da religião da fé, enquanto o que tem sido conhecido como Arminianismo foi diluído para um grau perigoso pela religião das obras e que é, portanto, uma forma incoerente e instável do cristianismo. Em outras palavras, cremos que o cristianismo alcança a sua expressão mais pura e plena na fé reformada.



No início do quinto século estes dois tipos de pensamento religioso entraram em conflito direto em um contraste notavelmente claro tal como consagrado nos dois teólogos quinto século, Agostinho e Pelágio. Agostinho apontou os homens a Deus como fonte de toda a sabedoria espiritual e força, enquanto Pelágio jogou homens de volta sobre si mesmos dizendo que eles eram aptos, em suas próprias forças, a fazer tudo o que Deus ordenou, caso contrário, Deus não os teria ordenado. Cremos que o Arminianismo representa um ajuste entre estes dois sistemas, mas que, enquanto em sua forma mais evangélica, como no Wesleyanismo primitivo, ele se aproxima da religião de fé, contém, entretanto, graves elementos de engano.


Estamos vivendo em uma época na qual praticamente todas as igrejas históricas estão sendo atacados, por dentro, pela incredulidade. Muitas delas já sucumbiram. E quase sempre a linha de descida tem sido do Calvinismo para o Arminianismo e do Arminianismo para o Liberalismo, e depois, para Unitarismo. E a história do Liberalismo e do Unitarismo mostra que eles se deterioram para um evangelho social, que é fraco demais para se sustentar. Estamos convencidos de que o futuro do Cristianismo está ligado a esse sistema de teologia historicamente chamado de "Calvinismo". Onde os princípios centrados em Deus do calvinismo foram abandonados, houve uma forte tendência decrescente para as profundezas do Naturalismo ou Secularismo centrados no homem. Alguns têm declarado - e cremos que corretamente - que não há uma parada estável entre o Calvinismo e Ateísmo.


O princípio básico do Calvinismo é a soberania de Deus. Isto representa o propósito do Deus Triuno como absoluto e incondicional, independente de toda a criação finita, e originado exclusivamente no eterno conselho de Sua vontade. Ele determina o curso da natureza e dirige o curso da história até os mínimos detalhes. Seus decretos são, portanto, eternos, imutáveis, santos, sábios e soberanos. Eles são representados na Bíblia como sendo a base da presciência divina de todos os eventos futuros, e não condicionada por esse conhecimento prévio ou por qualquer coisa originada dos próprios eventos.


Toda pessoa que reflete, rapidamente percebe que alguma soberania regendo vida. Ele não foi questionado se ele iria ou não existir, quando, como ou onde nasceria, se no século XX ou se antes do Dilúvio, se homem ou mulher, se branco ou negro, se nos Estados Unidos, na China , ou na África. Todas essas coisas foram soberanamente decididas para ele antes de sua existência. É reconhecido por cristãos de todas as eras que Deus é o Criador e Regente do mundo, e que, como tal, Ele é a fonte última de todo o poder que é se encontra em todo o mundo. Por isso nada pode acontecer além da sua vontade soberana. Caso contrário, Ele não seria verdadeiramente Deus. E quando nos debruçamos sobre essa verdade, percebemos que ela envolve considerações que estabelecem a posição Calvinista e refuta a posição Arminiana.


Em virtude do fato de que Deus criou tudo que existe, Ele é o dono absoluto e árbitro final de tudo o que Ele fez. Ele não apenas exerce uma influência geral, mas na verdade regula os assuntos dos homens (Atos 4:24-28). Mesmo as nações são como o pó quando comparadas à sua grandeza (Isaías 40:12-17). Em meio a todas as aparentes derrotas e inconsistências de nossa vida humana, Deus está realmente controlando tudo em serena majestade. Mesmo os atos pecaminosos dos homens podem ocorrer somente por Sua permissão e com o poder que ele dá à criatura. E uma vez que Ele não os permite a contragosto, mas voluntariamente, então tudo o que acontece - incluindo até mesmo os atos pecaminosos e o destino final dos homens – tem que ser, em certo sentido, de acordo com o que Ele eternamente propôs e decretou. Na mesma proporção em que isto é negado, Deus é excluído do governo do mundo, e temos apenas um Deus finito. Naturalmente, surgem alguns problemas que em nosso estado atual de conhecimento não somos plenamente capazes de explicar. Mas isso não é razão suficiente para rejeitar o que as Escrituras e os claros preceitos da razão afirmam ser verdadeiro.


E não deveríamos crer que Deus pode converter um pecador quando lhe apraz? Não é possível ao Poderoso, o Onipotente Soberano do céu e da terra mudar o caráter das criaturas que Ele fez? Ele transformou a água em vinho em Caná e converteu Saulo no caminho de Damasco. O leproso disse: "Senhor, se quiseres, podes purificar-me" (Mt 8:2). E em uma palavra sua lepra foi curada. Não vamos acreditar, como fazem os arminianos, que Deus não pode controlar a vontade humana, ou que Ele não pode regenerar uma alma, quando lhe agrada. Ele é capaz de limpar tanto a alma quanto o corpo. Se Ele quisesse Ele poderia levantar uma multidão de ministros cristãos, missionários e trabalhadores de vários tipos, e poderia, assim, trabalhar através do Seu Santo Espírito para que o mundo inteiro se convertesse em um curtíssimo tempo. Se Ele propusesse salvar todos os homens, Ele poderia ter enviado hostes de anjos para instruí-los e realizar obras sobrenaturais na terra. Ele poderia ter trabalhado maravilhosamente no coração de cada pessoa de modo que ninguém se perdesse.


Visto que o mal existe somente por Sua permissão, Ele poderia, se lhe aprouvesse, apagá-lo da existência. Seu poder, a este respeito foi mostrado, por exemplo, na obra do anjo destruidor que em uma noite matou todos os primogênitos dos egípcios (Êxodo 12:29), e em outra noite matou 185.000 do exército assírio (II Reis 19:35). Isto foi demonstrado quando a terra se abriu e engoliu Coré e seus aliados rebeldes (Nu. 16.31-35). O Rei Herodes foi ferido e morreu de uma morte horrível (Atos 12:23). Em Daniel 4:34-35, lemos que o poder do Deus Altíssimo "cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”


Tudo isso traz à tona o princípio básico da Fé Reformada - a Soberania de Deus. Deus criou este mundo em que nos encontramos, Ele o possui, e Ele o dirige segundo a Sua boa e soberana vontade. Deus não perdeu em nada o seu poder, e é altamente desonroso a Ele supor que Ele está lutando junto com a raça humana, dando o melhor de si para persuadir os homens a fazer o que é certo, mas incapaz de realizar seu eterno, imutável, santo, sábio e soberano propósito.


Qualquer sistema que ensina que as sérias intenções de Deus podem, em alguns casos, serem derrotadas, e que o homem, que não é apenas uma criatura, mas uma criatura pecadora, pode exercer o poder de veto sobre os planos de Deus Todo-Poderoso, está em flagrante contraste com a idéia bíblica de Sua imensurável exaltação pela qual Ele é distanciado de todas as fraquezas da humanidade. Os planos dos homens nem sempre são executados devido à falta de poder, à falta de sabedoria, ou à ambas. Mas uma vez que Deus é ilimitado nestes e em todos os outros recursos, nenhuma situação imprevisível pode surgir. Para ele, as causas de mudança não existem. Supor que o Seu plano falha e que Ele se esforça por um efeito nulo é reduzi-lo ao nível das suas criaturas e fazer dele um não-Deus em absoluto.

domingo, 21 de março de 2010

CHAMADA EFICAZ OU GRAÇA IRRESISTÍVEL

O CALVINISTA

Cada membro da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - participa e contribui para a salvação de pecadores. Como já foi mostrado, o Pai, antes da fundação do mundo, escolheu aqueles que iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo. Na época oportuna o Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas esses dois grandes atos - a eleição e a redenção - não completam a obra da salvação, pois está incluída no plano divino para a recuperação do pecador perdido a obra renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da obediência e da morte de Cristo são aplicados ao eleito. A doutrina da Graça Irresistível ou Eficaz está relacionada com essa fase da Salvação. Declarada de modo simples, esta doutrina afirma que o Espírito Santo nunca falha em trazer à salvação aqueles pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Ele aplica inevitavelmente a salvação a todo pecador que Ele tencionou salvar, e é Sua intenção salvar todos os eleitos.



O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos em pecado e debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de abandonar os seus maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber misericórdia. Nem podem e nem querem fazer isso. Consequentemente, o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e crer. Nenhuma quantidade de ameaças ou promessas externas fará um pecador cego, surdo, morto e rebelde se curvar perante Cristo como Senhor e olhar somente para Ele para a salvação. Tal ato de fé e submissão é contrário à natureza do homem perdido.



Por isso, o Espírito Santo, para trazer o eleito de Deus à salvação, estende-lhe uma chamada especial interna em adição à chamada externa contida na mensagem do evangelho. Através dessa chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de graça no pecador que, inevitavelmente, o traz à fé em Cristo. A mudança interna operada no pecador eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual.



No campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O Espírito cria nele um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado através da regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo, de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre escolha. Pelo fato de receber uma nova natureza que o habilita a amar a retidão, e porque sua mente é iluminada de .forma a habilitá-lo a entender e crer no evangelho, o pecador renovado (regenerado) volta-se para Cristo, livre e voluntariamente, como seu Senhor e Salvador. Assim, o pecador que antes estava morto, é atraído a Cristo pela chamada interna e sobrenatural do Espírito, a qual, através da regeneração, o vivifica e cria nele a fé e o arrependimento.



Embora a chamada externa do evangelho possa ser, e freqüentemente é, rejeitada, a chamada interna e especial do Espírito nunca deixa de produzir a conversão daqueles a quem ela é feita. Essa chamada especial não é feita a todos os pecadores, mas é estendida somente aos eleitos. O Espírito não depende em nenhuma maneira da ajuda ou cooperação do pecador para ter sucesso em Sua obra de trazê-lo a Cristo. É por essa razão que os calvinistas falam da chamada do Espírito e da graça de Deus em salvar pecadores como sendo "eficaz", "invencível" ou "irresistível". A graça que o Espírito Santo estende ao eleito não pode ser obstada, nem recusada; ela nunca falha em trazê-lo à verdadeira fé em Cristo.



A doutrina da Graça Irresistível ou da Vocação Eficaz é apresentada em termos bem claros no capítulo X da Confissão de Fé de Westminster.



1. Declarações gerais mostrando que a salvação é tanto obra do Espírito como é do Pai e do Filho:



ROM8.14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.

ICOR2.10 Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus.

ICOR2.11 Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus.

ICOR2.12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus;

ICOR2.13 as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.

ICOR2.14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

ICOR6.11 E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

ICOR12.3 Portanto vos quero fazer compreender que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! e ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! senão pelo Espírito Santo.

IICOR3.6 o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

IICOR3.17 Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade.

IICOR3.18 Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

IPED1.2 eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.




2. Através da regeneração ou novo nascimento, os pecadores recebem a vida espiritual e são feitos filhos de Deus. A Bíblia descreve esse processo como uma ressurreição espiritual, uma criação, o recebimento de um novo coração, etc. A mudança interna, que é operada através do Espírito Santo, é fruto do poder e da graça de Deus e de forma nenhuma depende da ajuda do homem para a operação do Espírito ser bem sucedida.



a) Os pecadores, através da regeneração, são trazidos para o Reino de Deus e feitos Seus filhos. O autor desse "segundo" nascimento é o Espírito Santo: o instrumento que Ele usa é a Palavra de Deus:



JOA1.12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;

JOA1.13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.

JOA3.3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

JOA3.4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

JOA3.5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

JOA3.6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

JOA3.7 Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.

JOA3.8 O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

TIT3.5 não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo,

IPED1.3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,

IPED1.23 tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.

IJOA5.4 porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.



2) Através da obra do Espírito o pecador morto recebe um novo coração (uma nova natureza) e é levado a andar na lei de Deus. Em Cristo ele torna-se uma nova criação:



DEU30.6 Também o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para que vivas.

EZE36.26 Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.

EZE36.27 Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.

GAL6.15 Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.

EFE2.10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.

IICOR5.17 Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.

IICOR5.18 Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação;




c) O Espírito Santo ergue o pecador de seu estado de morte espiritual e o vivifica:



JOA5.21 Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.

EFE2.1 Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,

EFE2.5 estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),

COL2.13 e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos;




3. Deus torna conhecidos aos Seus escolhidos os segredos do Reino através da revelação interna e pessoal dada pelo Espírito:



MAT11.25 Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.

MAT11.26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.

MAT11.27 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

LUC10.21 Naquela mesma hora exultou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos; sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.

MAT13.10 E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?

MAT13.11 Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;

MAT13.16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.

LUC8.10 Respondeu ele: A vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros se fala por parábolas; para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.

MAT16.15 Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou?

MAT16.15 Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou?

MAT16.16 Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.

MAT16.17 Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.

JOA6.37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.

JOA6.44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

JOA6.45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.

JOA6.64 Mas há alguns de vós que não crêem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.

JOA6.65 E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.

ICOR2.14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

EFE1.17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele;

EFE1.18 sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos,




4. A Fé e o Arrependimento são dons divinos, os quais são operados na alma através da obra regeneradora do Espírito Santo:



ATO5.31 sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados.

ATO11.18 Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida.

ATO13.48 Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.

ATO16.14 E certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que temia a Deus, nos escutava e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.

ATO18.27 Querendo ele passar à Acáia, os irmãos o animaram e escreveram aos discípulos que o recebessem; e tendo ele chegado, auxiliou muito aos que pela graça haviam crido.

EFE2.8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé- e isto não vem de vós, é dom de Deus;

EFE2.9 não vem das obras, para que ninguém se glorie.

FIL1.29 pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, mas também o padecer por ele,

IITIM2.25 corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade,

IITIM2.26 e que se desprendam dos laços do Diabo (por quem haviam sido presos), para cumprirem a vontade de Deus.




5. O apelo do evangelho estende uma chamada geral externa à salvação a todos que ouvem a mensagem. Em adição a essa chamada externa, o Espírito estende uma chamada especial interna aos eleitos e só a esses. A chamada geral do evangelho pode ser, e geralmente é, rejeitada, mas a chamada especial do Espírito não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão daqueles a quem é feita:



ROM1.6 entre os quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo;

ROM1.7 a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes santos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

ROM8.30 e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.

ROM9.23 para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,

ROM9.24 os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

ICOR1.1 Paulo, chamado para ser apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Sóstenes,

ICOR1.2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

ICOR1.9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor.

ICOR1.23 nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos,

ICOR1.24 mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.

ICOR1.25 Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

ICOR1.26 Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos. nem muitos os nobres que são chamados.

ICOR1.27 Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes;

ICOR1.28 e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são;

ICOR1.29 para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.

ICOR1.30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;

ICOR1.31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.

GAL1.15 Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça,

GAL1.16 revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei carne e sangue,

EFE4.4 Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;

IITIM1.9 que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,

HEB9.15 E por isso é mediador de um novo pacto, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões cometidas debaixo do primeiro pacto, os chamados recebam a promessa da herança eterna.

JUD1.1 Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai, e guardados em Jesus Cristo:

IPED1.15 mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento;

IPED2.9 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

IPED5.10 E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.

IPED5.10 E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.

IIPED1.3 visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude;

APO17.14 Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis.




6. A aplicação da salvação é toda pela graça e só é realizada através do infinito poder de Deus:



ISA55.11 assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.

JOA3.27 Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.

JOA17.2 assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado.

ROM9.16 Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.

ICOR3.6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.

ICOR3.7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.

ICOR4.7 Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?

FIL2.12 De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor;

FIL2.13 porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.

TIA1.18 Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.

IJOA5.20 Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.




David N. Steele e Curtis C. Thomas

Seja feita minha vontade .J.I.Packer

O cristianismo da banheira quente é radicalmente errado. Por quê? Porque expressa tanto o egocentrismo, pelo qual um indivíduo recusa negar a si próprio, como também o eudemonismo, pelo qual a pessoa rejeita o programa disciplinar de Deus para si mesmo. Assim, torna-se duplamente irreligioso.

Por egocentrismo, refiro-me à essência da imagem de Satanás na humanidade decaída. Isto pode ser descrito como a relutância em se enxergar como existindo para o prazer do Criador e, ao contrário, a disposição de se estabelecer como centro de todas as coisas. A busca pelo prazer próprio em qualquer uma de suas modalidades é a regra e a força motriz da vida egocêntrica. Orgulho é o nome cristão clássico para esta síndrome de auto-afirmação e auto-adoração, da qual o moto implícito é "seja feita minha vontade". Embora o orgulho egocêntrico possa adotar a forma de Cristianismo, corrompe a substância e o espírito do Cristianismo. Tenta manipular Deus e controlá-lo para seus próprios objetivos. Isso, como já indicado, reduz a religião à mágica, tratando o Deus que nos fez como se ele fosse o nosso mordomo pessoal ou o gênio da lâmpada de nosso Aladim. O teocentrismo — que repudia o egocentrismo, reconhecendo que, no sentido fundamental, nós existimos para Deus e não ele para nós, e então adorando-o convenientemente — é básico para a verdadeira piedade. Sem esta mudança radical, da centralização em si próprio para a centralização em Deus, qualquer mostra de religião é falsa em maior ou menor grau.

Jesus Cristo exige abnegação, isto é, autonegação (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23) como uma condição necessária do discipulado. A abnegação é um chamado para a pessoa se submeter à autoridade de Deus como Pai, e de Jesus Cristo como Senhor, e para declarar guerra vitalícia contra o egoísmo instintivo. A negação requerida é do eu carnal, do impulso egocêntrico, auto-deificante com o qual nascemos, e que nos domina tão ruinosamente em nosso estado natural.

Jesus une a negação de si ao levar a cruz. Levar a cruz é muito mais do que suportar esta ou aquela aflição. Carregar sua cruz nos dias de Jesus, como aprendemos da própria história da crucificação de Jesus, era requerido daqueles a quem a sociedade havia condenado, cujos direitos haviam sido suspensos, e que agora estavam sendo conduzidos para sua execução. A cruz que carregavam era o instrumento da morte. Jesus representa o discipulado como sendo uma questão de segui-lo, e segui-lo tomando sua cruz em negação de si mesmo. O ser carnal nunca consentiria em lançar-se em tal papel. "Quando Cristo chama um homem, propõe que ele venha e morra", escreveu Dietrich Bonhoeffer, oito anos antes dos nazistas o terem enforcado. Bonhoeffer estava certo: aceitar morrer para tudo aquilo que o ser carnal quer possuir é justamente o assunto do apelo de Cristo.

O cristianismo da banheira quente deixa de encarar essa questão e tenta aproveitar o poder de Deus vinculando-o às prioridades da autocentralização. Sentimentos de prazer e de conforto, brotando de circunstâncias agradáveis e experiências suaves, são objetivos importantes hoje em dia, e muito do Cristianismo popular dos dois lados do Atlântico tenta fazer a nossa vontade, fabricando-os para nós. Algumas vezes, como meio para alcançar esse fim, invoca a idéia de que as promessas de Deus são como os encantos de um mágico: use-as corretamente e você poderá extrair de Deus qualquer coisa legítima e agradável que deseje. Quando eu era estudante, fiquei chocado com um pequeno livro de sermões de um conhecido evangelista, Como Escrever Seu Próprio Cheque com Deus. Hoje, quarenta anos mais tarde, o assim chamado "evangelho da saúde e prosperidade", que promete cura miraculosa para os enfermos e enriquecimento material para os necessitados, desde que eles ajam ousadamente sobre a fórmula "afirme e reivindique", tem muitos e fascinados seguidores. Muitos não são devotos totais da "cura-e-prosperidade", mas ainda tratam Tiago 5.15 ("A oração da fé salvará o enfermo") como fórmula mágica garantida para cura milagrosa, sempre que a "fé" for alcançada. Quando falo da religião da banheira quente, tenho em mente posições tais como esta.

É correto e bom ter confiança nos recursos ilimitados de Deus e altas expectativas de ser liberto do mal. Mas, conceber uma oração de petição como sendo uma técnica para fazer Deus dançar segundo a música que você estabelece e obedecer às ordens que você dá não é certo nem bom. Na oração de petição, devemos tentar discernir o propósito de Deus na vida ou na situação de vida que colocamos perante ele, e cristalizar pedidos específicos como uma demonstração de "Seja feita a tua vontade", que deve ser sempre nossa súplica fundamental. A religião da banheira quente não alcança o ponto onde pode ver isto. O egocentrismo que a produziu é devastador; a oração como maneira nossa de gerenciar e dirigir as energias de Deus, de tal maneira que ele nos reconheça, em vez de nós a ele, nunca está longe de seu coração. É mau